Olá, meninas :).
Reparei que há um ano que não digo absolutamente nada e nunca mais soube de nada acerca das vossas pessoas - não passaram pelo meu blog, mas não tem problema :].
Tenho umas saudades disto que meu deus... Tenho saudades dos serões aqui passados, das amizades criadas, dos comentários que me davam cada vez mais alento para escrever. Mudei muito desde que comecei a "mergulhar" por estes caminhos, desde 2008 - comecei noutro blog e, entretanto, mudei-me para este. A minha escrita está super diferente, eu própria sou outra!
Deixo-vos aqui um texto entitulado "Às escuras", sendo um tema não muito retratado e que, sinceramente, me toca sempre que vejo um cenário parecido.
Beijinhos grandes,
"Anuxka" :)
Às escuras.
De olhos cerrados, percorres os lençóis através do tacto em busca da textura correspondente à do linho. Não encontras e entras em pânico tão rapidamente como um reflexo se apodera de ti e te leva a abrir os olhos. Porém, todos os esforços não te levam a um trilho seguro capaz de responder às tuas expectativas. Na verdade, sabes que por mais que percorras, por mais que mexas descontroladamente os braços, que mexas minuciosamente os dedos e as pontas dos mesmos, nunca encontrarás aquilo que tanto buscas.
Ouves um estrondo e a adrenalina proveniente do susto percorre-te todos os músculos, accionando o modo automático, o qual, na verdade utilizas sem te aperceberes. Passou a ser parte de ti, já que a adversidade por que passaste mudou-te o rumo e deixou-te sem escape possível. Ninguém te julga por seres assim, por não mostrares sentimentos face ao que te rodeia, ao que te envolve e pertence. Na verdade, respeitam-te, por te considerarem um lutador.
Lutas todos os dias sempre que atravessas uma estrada, experimentas uma roupa ou pões a mesa. Vives sozinho e ninguém te socorre, ninguém te oferece uma mão capaz de te guiar.
Deve ser difícil ter que ultrapassar por tudo sozinho, tu que, apesar de te rodeares de pessoas que não conheces, não tens um amigo capaz de te acarinhar e distribuir afectos, moldar-te sorrisos no rosto que se habituou a suportar, forçosamente, os óculos escuros que te protegem das discriminações a que és sujeito ex periodicamente. A própria cidade discrimina-te, troça a dor que te foi impingida, a falta de vida que te está estampada no rosto incolor que já não cora, que já não é o intermediário pelo qual passam lágrimas salgadas e frágeis, que demonstram o humano que és. Um humano que é condicionado por tudo o que lhe está associado. Um humano que se transformou numa máquina que chia e que se movimenta rotativamente apenas quando tem bateria suficiente para tais funções.
Ao perderes um autocarro, tropeçares numa pedra ou ao chocares com alguém, estagno. Estagno no preciso momento em que me sinto impotente graças às visualizações surreais que se ressaltam à vista de qualquer humano que presencie tal desconforto. Todavia, nem todos param. Pensam que irás ultrapassar o obstáculo, contornar o problema e atingir o objectivo.
Imagino os sentimentos que te percorrem quando um objecto inanimado te humilha de maneira desconcertante. Imagino a raiva que te percorre e não cessa. Imagino, também, a tristeza que tem uma vontade enorme de fluir para o exterior, de se libertar e se afirmar relativamente à situação. Uma situação ingrata que será sempre um hábito, ao qual nunca hás-de habituar-te. Um hábito forçoso e incontornável. Não podes fugir, nem esconder-te, lidas de frente com os problemas e esbarras o teu semblante bem-parecido em muitas paredes. Aprendes em todas essas vezes; já sabes a direcção por qual optar e recordas-te, ainda que não as acompanhes eficazmente com os teus olhos cinzentos metalizados.
O aroma que se infiltra no teu nariz percorre todo o teu sistema nervoso e traz à tona recordações que pensavas estar adormecidas. A essência leva-te a recordar o dia trágico que encaminhou a destruição da tua vida. Procuras a almofada que te convém, naquele momento, e apercebes-te que nem mesmo nela perdura o odor que não esqueces. Mais uma vez, tentas abrir os olhos, mas é como se uma venda definitiva te fosse colocada abruptamente sem te pedirem permissão – e não pediram. Contudo, todos os teus sentidos estão mais apurados, mas não te sentes agradecido por isso.
Mais uma vez, percorres toda a colcha que te suporta e que te envolve em memórias passadas apenas para ter a certeza que não estás a viver uma história de terror ou até mesmo de perda.
Bastou um segundo para coleccionares, sem repetições, as maiores perdas da tua vida. Gritas, mas a voz não soa, não ecoa. Gritas, mas ninguém te ouve, porque estás sozinho, desacompanhado e desamparado de tudo o que te têm para dar.
A memória também te falha e todo aquele cenário parece-te pouco nítido, sem viabilidade. Mesmo assim, fechas os dedos em forma de punho e esmurras tudo o que se encontra à tua beira, sem saberes no que tocas, nem o que destróis. Destróis espelhos, objectos decorativos, molduras que contêm fotos vossas. Lembras-te, finalmente, de quem procuras. O problema que aqui consta é mesmo esse: um alguém que jamais poderás encontrar, visto que já não se encontra cá.
Ela salvou-te o melhor que soube, tornou-te a sua prioridade numa fracção de segundos e preferiu ir ela, em vez de te deixar partir a ti.
Sempre foste egocêntrico ao ponto de pensar mais em ti, no que nela. Ela merecia ser elevada ao pódio, ficar com o primeiro lugar da tabela, do teu coração, das tuas convicções.
Com o acidente trágico, em que toda uma bola de vidro se quebrou defronte dos vossos olhos e os estilhaços pairaram bem à vossa frente de forma contínua e devastadora, a tua companheira não aguentou os ferimentos, já que o sangue teimava em não parar. Por outro lado, os estilhaços pequenos e invisíveis entraram em contacto com os teus olhos fantásticos e arrasaram-nos. A ideia de ir ver aquele evento tinha sido dela, tu foste apenas contrariado, só para não ter que ouvir as suas reclamações e descomposturas. Apesar de fraca e quase inconsciente, atirou-te os seus óculos de sol e tu, já a perderes a visão, começas-te a ver uma neblina que se sobrepunha a tudo aquilo. Conseguis-te apanhá-los e pô-los na face, de modo a não piorar a terrível situação.
Ainda hoje utilizas os óculos que te foram enviados com tanto amor e preocupação. Lembras-te que ela, mesmo a morrer, recordou-se do que era amar-te, preocupar-se e acarinhar-te. Ninguém fará o mesmo por ti, em parte alguma.
Ainda a procuras. Ainda tentas saber onde se encontra, por onde tem andado e o que tem feito. A tua rapariga será sempre tua e nunca hás-de perder todos os detalhes que fostes desprezando ao longo da vida partilhada com ela. Foi pena teres dado valor a todos eles no final, aglomerando todos eles de forma convicta e imperturbável, por mais perturbado que estivesses.
A acção dela mostrou-te que o amor existe mesmo e, apesar de quereres partir para junto dela, farto da vida ingrata que tens tido até ao momento, agradeces.
Podias ter recusado o vosso programa, faltado e estares hoje são e salvo. Intimamente, achas que tomas-te a decisão certa porque por mais que tenhas perdido tudo o que tinhas, acabas-te por ganhar uma certeza irrefutável: o amor é cego.
O amor é cego e ela, cega, deu-te o seu lugar na Terra, por mais que tu próprio hoje sejas invisual. Por mais que te aches uma lástima e um ser desprezível, ela tinha um grau de privação maior que o teu: o seu amor por ti era tão grande que ela própria cegou de tanto te amar.
E já vou eu a caminho da universidade - ainda em exames - e quando cá pus os pés, pela primeira vez, andava eu no 9ºano. Como o tempo passa!
Olá, meninas.
Obrigada por se tornarem fiéis quanto a esta história, ao blog e, principalmente, a mim.
Venho trazer-vos o último capítulo desta fic que se tem prolongado por todo este tempo e a culpa é minha. Não directamente, mas pronto.
Pelo que vi, acho que vou partilhar convosco o endereço do meu blog de textos, o blog mais pessoal que até hoje tive.
Gostaria que comentassem e usassem o nickname que utilizam aqui pelo sapo para saber de quem se trata. Gostaria mesmo de uma opinião!
Aqui vai: http://www.dreamswordsandlove.blogspot.com/
Quanto a este blog, não sei se vou continuar com ele. Não tenho histórias completas e não tenho tido imaginação suficiente para dar rumo a uma história completa.
Secalhar vou ter que eliminá-lo.
Capítulo 49
ENFERMEIRA: Não, querida. A Sónia faleceu esta madrugada, ela ontem à noite só vomitava e estava super mal disposta, por causa da quimioterapia. – Uma lágrima acabou por cair, seguindo-se outra e outra. – Ela deixou isto para ti, eu vi-a a escrevê-la de tarde. – Passou-me para as mãos uma carta, onde tinha uma borboleta, que ela tanto gostava.
Abri a carta, rasgando por completo o envelope que a envolvia.
“ Querida Ana,
Sinto-me cada vez pior, os vómitos e as náuseas cada vez são mais frequentes, já não me sinto capaz de viver mais. Sei que dentro de horas, irei para um sítio melhor, se ele existir. Se existir, mando-te um e-mail lá de cima. Lá deve haver internet.
Em tempos, contaste-me uma história muito bonita, à qual quero-te recompensar. É a minha vez de te contar uma. A minha história. Aqui vai:
Era uma vez uma menina chamada Sónia, conhecida por todos por Soninha, desde pequenina.
Sempre foi uma menina feliz, que tinha muitos amigos e o apoio da família.
Um dia, numa ida ao médico, consulta de rotina, pensou ela, descobriu que tinha um cancro já avançado.
Foi internada de imediato, sem espaço para recusar ou aceitar esta nova realidade.
Os amigos começaram a escassear, o cabelo a cair, os vómitos a começarem e a menina cada vez mais fraca, menos bonita e menos esperançosa, já familirializada com a palavra ‘morte’, que estava presente em todos os seus dias.
Num dia normal, como tantos outros, conheceu uma menina chamada Ana.
Uma menina que andava numa cadeira de rodas, cabisbaixa e pronta para conhecer novos amigos, já que estava na sala de convivio todos os dias.
A cumplicidade que a Sónia tinha com a Ana e que a Ana tinha com a Sónia era bastante vísivel. Passaram a fazer tudo juntas, contavam tudo uma à outra.
Ana fazia Sónia rir como ninguém e nunca a rotulou, nem nunca a privou dos momentos que passaram só por ela ter cancro. Nunca mostrou sentir pena dela, coisa que Sónia odiava que tivessem.
Um dia, fizeram uma promessa. Prometeram que em todas as ocasiões, boas ou más, iriam sempre ter um sorriso na cara.
A Sónia acabou por morrer e a Ana aprendeu a ser feliz, com toda a sorte do mundo.
Sónia passou a ser a guia da amiga, ajudando-a em todas as dificuldades, mas lá em cima.
Fim !
Minha amiga, o meu tempo está a acabar, a caneta já não desliza direito e as minhas mãos já não têm muita força.
Nem depois de vida me vou esquecer da nossa promessa.
Vou morrer com um sorriso, vou morrer contente por te ter conhecido. Graças a ti, desde há 7 meses que me rio com sentido, que estou constantemente a sorrir.
Um sorriso feito por ti.
Cabe-te a ti, amiga, fazeres da vida o que eu não posso fazer na morte : seres feliz.
Da tua eterna amiga,
Sónia. “
Isto era bastante novo, bastante duro para aceitar assim.
Ler aquela carta era o mesmo que saber que a Sónia já estava longe e que não me podia despedir dela, que já não lhe podia sorrir ou lhe dar a mão uma última vez.
Queria-lhe dizer o quanto ela me fez bem e o quanto ela teve significado para mim.
ENFERMEIRA: Hoje vai ser o funeral, daqui a pouco, no cemitério ao pé do parque da cidade.
Chamei um táxi e fui direita a casa. Subi o mais rápido que consegui as escadas e peguei num papel e numa caneta. Ia responder à carta da Sónia, eu sei que ela iria lê-la.
“ Minha amiga Sónia,
Recebi a tua carta com muito amor e cá estou eu a responder-te, eu sei que a hás-de ler.
Queria ter passado mais tempo contigo, mereciamos mais.
Mas acredita que o que passei contigo, foram dos momentos mais sinceros e mais puros que passei com alguém.
Não aceito a tua partida, até porque, estarás sempre presente.
Onde eu estarei, tu estarás. Estaremos juntas, sempre a sorrir, como o prometido.
Vou fazer o que me pediste: ser feliz.
Graças a ti já o sou, porque se não fosses tu, a esta hora ainda estava encalhada na cadeira de rodas.
Pois é amiga, já consigo andar. Já ando de moletas.
Ia-te hoje mostrar as minhas novas companheiras, quando soube da tua triste partida.
Sabes, secalhar esse sítio é mesmo melhor. Já sabes, avisas-me por internet.
Obrigada por tudo, obrigada por me teres feito crescer.
Amigas agora e sempre, tanto em vida como em morte.
Repousa em paz, até já.
OBRIGADA & sorri,
Ana, “ a menina da cadeira de rodas”.
Dobrei a carta e meti-a dentro do envelope.
Expliquei o que aconteceu ao Tom e pedi-lhe que viesse comigo.
De carro era bem mais rápido e já estávamos no cemitério, lá ao fundo via uma multidão de gente, onde se encontrava a mãe da Sónia, de óculos escuros.
Pedi ao Tom para agarrar nas moletas e fui aquele caminho todo sem apoios. Ainda não tinha tido tempo para chorar a sua partida e precisava de o ter.
Há pessoas que nos marcam em poucos gestos. Fui aquele caminho a chorar, sem vergonha e sem nada a esconder. Chorar não é sinal de fragilidade, é sinal de se ter sentimentos, sejam eles quais foram.
Eu ia ter tantas saudades
Percorri aquele caminho, com duas cartas na mão: a que ela me tinha escrito e a que era destinada a ela, escrita por mim. Abri a que ela tinha escrito e reli vezes sem contas. Os errepios que me davam só de ler a história que ela contava da vida dela.
Cheguei até ao lugar onde iria ser enterrada e olhei para o chão, não cumprimentei ninguém, só dei a mão à mãe da minha amiga.
Depois da missa e de toda a gente ir embora, fiquei a olhar para o seu jazido, agora preenchido com terra e com flores.
O Tom veio por trás de mim e pousou a sua mão nas minhas costas.
EU: Ela escreveu-me isto. – Abanei a carta que me foi escrita. – Ela era tão nova, com tanto para viver...
TOM: Mas pelo que me contavas, ela já andava mal, foi melhor assim.
EU: Mas ela quando estava comigo sorria tanto, parecia-me feliz.
TOM: Sorrisos feitos por ti. – Arrepiei-me ao ouvir esta parte, que parecia ter sido retirada da carta da Sónia.
Encostei a carta a uma jarro que lá estava e despedi-me um última vez.
Horas mais tarde, resolvi ir lá sozinha, talvez por precisar desse tempo com ela.
A carta? Já lá não estava.
Teria sido levada pelo vento, ou talvez alguém tivesse mandado fora.
Ou quem sabe, talvez esteja na presença da Sónia.
Seja como for, eu sei que ela a leu. Sei, eu sentia que sim.
Depois do tempo suficiente para me despedir em condições, saí daquele cemitério.
Apartir da morte da Sónia, aprendi a viver a vida de outra maneira.
Aprendi a viver com base na confiança e no amor, junto a todas as pessoas que me apoiaram e que me faziam realmente feliz.
Aceitei todas as mudanças dadas pela vida e moldei-as à minha maneira de ser, ao meu estilo de vida.
Uma vez juntos, a vida toda pela frente.
O nosso grupo de amigos teve um início, um começo e todos nós um companheiro com quem contar. Três casais, seis pessoas totalmente diferentes, sempre juntos, em qualquer episódio bom ou menos bom, mas juntos até a vida o querer.
Hoje pode-se estar bem, amanhã mal.
Sabem, cresci imenso e sinto que todas as outras pessoas são capazes de tal amadurecimento.
Um sorriso é a base para se ser feliz, para se ultrapassar tudo.
Com amor, amizade, coragem e força de vontade, ultrapassam-se barreiras que se julgavam inatingíveis.
Um sorriso no momento certo, equivale à força precisa para uma nova etapa na nossa vida.
Um até sempre,
Ana Vale de Andrade.
Como sabem, a narradora de toda esta história era a protagonista da mesma: Ana.
Foi mera coincidência ter o mesmo nome que eu. Mas gostava, se fosse possível, de ter a mesma força que ela. Apesar de ser uma história, acho que ela retrata o processo lento e gradual que todas as pessoas sofrem quando são confrontadas com os obstáculos da vida. Mostra-nos que, apesar de todos os problemas e dificuldades, somos humanos e como humanos que somos, podemos cair, abrir inúmeras feridas, mas somos suficientemente capazes de nos levantarmos e prosseguir em frente.
Era o que pretendia com esta história: mostrar-vos a vocês e até a mim que, se quisermos e fizermos para tal, tudo o que ansiamos podem passar de ser um sonho, e passar a ser uma realidade.
OBRIGADA POR ME IREM ACOMPANHANDO AO LONGO DE TODOS ESTES TEMPOS. DESLOQUEM-SE ATÉ AO MEU BLOG E IREI RECEBER A VOSSA OPINIÃO COM MUITO CARINHO. OBRIGADA, MAIS UMA VEZ.
ADORO-VOS!
Olá, pessoas.
Sei que a minha presença continua a não ser assídua, mas enfim... Peço, pela milésima vez, desculpa.
Pelas minhas contas, mais um capítulo ou dois e a história acaba.
Julgo não ter nada preparado depois disto. Não tenho fanfictions completas, mas tenho histórias.
Se assim quiserem, posso postá-las, quem sabe, de vez em quando.
Por falar em textos, eu tenho um blog pessoal que contém apenas textos. Se quiserem ler algum deles, peçam, que posto o link.
Beijinhos, cá vai mais um capítulo.
Capítulo 48
ENFERMEIRA: Sónia, está na hora de ires fazer quimioterapia. – A Sónia,pelo que me tinha contado, já fazia ‘quimio’ há algum tempo. Usava lenços porque o cabelo já tinha acabado por cair. Era uma rapariga bastante engraçada, com uns olhos castanhos expressivos, uma cara redondinha. Os lenços ficavam-lhe muito bem.
SÓNIA: Depois vens-me visitar? – Perguntou ao mesmo tempo que se levantava da cama para ser acompanhada pela enfermeira até à sala que já era conhecida de cor.
EU: Claro que sim. Agora vou para a fisioterapia, amanhã cá estarei outra vez.
SÓNIA: Boa sorte para a fisioterapia. – Sorriu e cumprimentou-nos antes de sair do quarto.
EU: E tem paciência com a quimioterapia. – Foi a minha vez de sair daquele quarto e ir com o Tom, até à sala de fisioterapia. Não sabia onde ficava, tinha que perguntar.
Depois de umas quantas perguntas pelo caminho, encontrava-me à porta da sala que ansiava conhecer já há algum tempo.
Não tinha combinado horários com o meu pai, mas a surpresa, é que se encontrava ali à minha frente, no mesmo momento em que ia bater à porta.
O Tom bateu a porta e a entrada foi muito rápida.
Olhei em redor e aquilo era absurdamente grande. Pode-se dizer que em equipamento, estava bastante dotado.
Explorei aquele lugar com a minha companheira, sem empurrões, pela minha própria mão. Um sítio sem obstáculos, o ideal para percorrer com a cadeira.
FISIOTERAPEUTA: És a Ana, certo? – Perguntou-me um homem com os seus trinta e poucos anos, com o cabelo já um pouco grisalho, mas com uns olhos azuis, mais clarinhos que o mar.
EU: Sou. – Respondi monossilabicamente.
FISIOTERAPEUTA: Chamo-me Mark, sou o teu fisioterapeuta. – Aprensentou-se desta maneira e deixou-se de cerimónias. – Posso-te tratar por tu?
EU: Sim, claro que sim. – Respondi já mais à vontade, talvez por este senhor mostrar que também estava à vontade.
FISIOTERAPEUTA: Temos um longo caminho a percorrer, mas já sabes que quanto mais te empenhares, mais rápido isto acaba e mais rápido te irás despedir dessa tua nova amiguinha. Já me disseram que estás com força que sobra para enfrentar os obstáculos que te vou proporcionar.
Não respondi verbalmente, apenas sorri. Ao que parecia, o meu fisioterapeuta, falava por mim e por ele. Já com os seus trinta anos, mas parecia da minha idade. O à vontade dele e a maneira como falava, dava-me imensa piada, achava-o muito cómico.
EU: Vamos a isto. – Respondi de maneira a calá-lo e a começar com o que me trazia ali.
Pôs-me a fazer uns exercicios, que ao que parece, fiz bem.
FISIOTERAPEUTA: Boa, está óptimo. Isso mesmo.
A sessão chegou ao fim num instante e sentia que ainda havia mais para fazer.
EU: Então adeus, até amanhã.
FISIOTERAPEUTA: Até amanhã, descansa.
Os dias foram passando, tais como os meses.
Os meus amigos já tinham ido para a casa deles, mas o Tom de vez em quando dormir comigo, os meus pais acabaram por aceitar isso.
Precisava da companhia dele, da segurança e do carinho que ele me dava.
Todos os dias ia ver a Sónia que ficava contente por sobreviver a mais um dia, já lá iam 7 meses.
Havia dias que me deixava ir abaixo, talvez por me sentir dependente de toda a gente e por não conseguir fazer tudo aquilo que queria.
Ver uma bicicleta e saber que não podia mexer nela, era mesmo muito devastador.
De vez em quando chorava, ao lembrar-me daquele dia que marcou para sempre a minha vida, mas, ao lembrar-me da promessa que tinha feito com a Sónia, limpava as lágrimas e desenhava um sorriso.
O fisioterapeuta estava contente com o trabalho que estava a fazer e até já me conseguia pôr de pé e dar uns passos. Sentia que já estava quase a largar a minha companheira e o Mark dizia o mesmo.
Agora já fazia 5 a 6 horas de fisioterapia por dia. Quanto mais fizesse, mais resultados tinha e era mesmo isso que queria: resultados.
Mais uma consulta, mais uma ida ao sítio que me trazia esperança e alegria.
Correu tudo como sempre: bem. Sentia-me bem ao acabar todos os exercícios e ver que conseguia ultrapassá-los, em qualquer grau de dificuldade.
Quem me acompanhava era quase sempre o Tom e o meu pai.
Umas vezes, quando não era possível estes irem, a minha mãe ou a Lúcia, também me faziam companhia.
FISIOTERAPEUTA: Bem, Ana, tenho uma novidade para ti. – Respondeu satisfeito.
EU: Ai é? Qual? – Perguntei ansiosa para saber o que me esperava.
FISIOTERAPEUTA: Estás a ver aquelas moletas ali? – Apontou para a sua secretária, onde estavam encostadas as tais moletas. – Vais passar a usá-las. Largas essa cadeira e começas a andar com elas.
EU: E estou preparada? Quer dizer, não vou cair? – Questionei um pouco assustada com tal mudança de planos.
FISIOTERAPEUTA: Estás mais que preparada. Foste uma menina muito forte, batalhas-te bastante. Não, não tenhas medo. Tem confiança no esforço que tiveste ao longo destes meses.
EU: Sim, eu já sinto as pernas, mas não acha que é muito cedo?
FISIOTERAPEUTA: Vai buscá-las. – Ordenou-me assim, em tom de desafio.
Os testes que ele me fazia eram bem mais fáceis do que atravessar uma sala inteira, de uma ponta à outra, sem apoios ou ajudas.
Pensei em desistir, mas pensei que se caísse, levantava-me, como tantas vezes tinha feito.
Dei passos pequenininhos, aos quais fui acrescentando velocidade e maiores passadas.
Dentro de minutos, com algum receio, estava ao pé das ditas cujas. Peguei nelas, ergui-as como sinal de vitória e sorri até não poder mais.
FISIOTERAPEUTA: Como vês, conseguiste. – Sorriu também por ver todo o trabalho recompensado naquela prova que definiria se esta apta para usar aqueles novos apoios. Só mesmo isso: apoios, caso houvesse um problema qualquer de desiquilibrio.
Despedi-me rapidamente, já tinha visto a Sónia por isso, o rumo era até casa.
FISIOTERAPEUTA: Espera, Ana. Não é preciso vires mais, estás mais que preparada. Podes vir, claro, mas só se me quiseres vir visitar. – Sugeriu vaidoso.
EU: É claro que venho. – Lá me despedi outra vez com velocidade e fui até casa, onde dei a notícia a toda a gente, com um sorriso na cara e agora de moletas.
Quando me viram foi uma autêntica surpresa e eu sorria até não poder mais, como se visse nas moletas, a vitória conquistada.
No dia que se seguiu, saí de casa toda vaidosa com as minhas moletas novas. Fui até ao hospital, agora sozinha, o Tom ia-me lá buscar depois.
Ia ver a Sónia. Estava desejosa de a ver e de lhe mostrar as minhas novas companheiras.
Fui pelos mesmos sítios do costume e perguntei, como tantas vezes fazia, à tal enfermeira, pela Sónia.
ENFERMEIRA: A Sónia foi para um sítio melhor. – Respondeu com um sorriso terno, ao falar da sua querida Sónia.
EU: Está na sala multimédia? É para a esquerda, não é? – Perguntei.
Olá, meninas!
Fiquei contente com o teu comentário, Flautista. É bom saber que a esta altura do campeonato, tenho alguém que gosta do que foi escrito há quase dois anos.
Eu, sinceramente, não gosto muito, visto que a minha escrita evoluiu BASTANTE desde o Verão de 2008. Mas enfim, já se prolonga há um ano e tenho que acabar de postá-la, claro!
E vou acabar. Já falta pouco. E eu a pensar que faltava menos...
As minhas aparições não são muito frequentes, mas vai aos poucos.
Peço-vos, desde já, se não se importarem (ou não tiverem nada de especial para fazer), se podiam passar por este cantinho http://voufilmarcomronaldo.sapo.pt/video/84 e votar neste vídeo. O rapaz chama-se Diogo Correia, é um amigo meu e merece o vosso voto, como podem perceber pelo vídeo e pela habilidade nele impressa.
Desde já um muito obrigado (meu e do Diogo) e espero que o façam, se não for pedir muito.
Beijinhos, mais um capítulo.
Capítulo 47
TOM: Pronta para ir para casa? – Perguntou ao mesmo tempo que me tirava a minha mala das mãos para ser ele a carregá-la.
EU: Se estou. – Sorri e dei-lhe uma ajudinha quanto aos travões da cadeira de rodas.
SARA: Posso empurrar a cadeira? – Questionou, saíndo de trás do meu pai, que se encontrava atrás de mim.
EU: Sou muito pesada, não consegues.
LUÍS: Eu levo. – Concluíu e começou a empurrar-me, o que me fez levantar os pés para dar uma ajudinha com a deslocação, apesar de não os sentir.
EU: A Daniela, a Marie e o Tiago? – Perguntei ao perceber que estes três não se encontravam entre nós.
BILL: Ficaram em casa. – Sorriu com um ar suspeito.
EU: Hum, tudo bem. – Disse desconfiada. Algo me dizia que estavam a tramar qualquer coisa, até porque eu já os conhecia bem demais.
Eu fui no carro do Tom, apesar disso ter sido motivo de discórdia entre o Tom e o meu pai. O Tom levou a dele àvante só mesmo por o carro do meu pai estar cheio e não ter espaço nem para uma pessoa, nem para uma cadeira de rodas, por o seu porta-bagagens não ser muito espaçoso.
TOM: Estás bem? – Perguntou ao mesmo tempo que me pôs a mão na perna, talvez por ter visto que estava bastante concentrada na paisagem, onde a observava pelo vidro da parte de trás do carro.
O Bill tinha ido a conduzir e o Tom ia-me a fazer companhia no banco de trás.
EU: Sim, estou. Sabes, é estranho. – Comecei por desafar o que sentia naquele momento.
TOM: O quê? – Encostou-se um pouco mais para o lado direito, onde me encontrava, porque estavamos muito afastados.
EU: Parece que tudo mudou neste mês, nesta semana, nestes últimos tempos. – Respirei fundo.
TOM: A mudança é constante, nós nem sempre a vemos, mas esta acontece.
EU: Tens razão. O que me deixa mais assustada é que a mudança às vezes pode ser tanta, que depois já nem conheces a pessoa em questão.
TOM: Estás a falar do teu pai?
EU: Também. Quer dizer, estou a falar de tudo, na mudança em geral, não só nas pessoas, nas coisas, no tempo, em todos os sítios em simultâneo.
TOM: Eu também vejo uma grande mudança em ti, em todos os sentidos.
EU: Como assim?
TOM: Já não és a rapariga anti-social e teimosa que conheci em tempos. Acho que estás um bocadinho mais crescida.
EU: Tu também cresceste. Só de pensar que pensei tão mal de ti quando .. – Fui automaticamente calada.
TOM: Shiu, não penses mais nisso. – Sorriu, ao que correspondi também com um pequeno sorriso.
BILL: E eu, cresci? – Perguntou a rir-se, talvez da nossa conversa.
EU: Mais? Já estás alto o suficiente. – Respondi eu a brincar. – Tens-te portado bem com a Daniela?
BILL: É claro que sim. Sempre. – Lá deixou de responder. Era preferível dar atenção à estrada do que a mim.
Dentro de pouco tempo estávamos em casa, em minha casa.
TOM: Vá, eu ajudo-te. – Pegou na minha mão e preparou-se para me ajudar a sair do carro.
EU: Não. Eu consigo. – Tudo muda, menos o orgulho do tamanho do Mundo. Queria tentar sozinha, até porque se eu me fosse agarrando, conseguia bem sair do carro e sentar-me na minha nova companheira.
Agarrei-me à porta do quarto e pus os pés no chão, como senti que estava a perder o equilibrio, sentei-me rapidamente na cadeira de rodas.
Guiaram-me até à porta, não sei bem quem, estava de costas para essa pessoa.
A minha mãe abriu a porta de casa e o primeiro empurrão que me deslocou até casa, fez-me ver que a casa estava mais escura do que o habitual. Já era previsível o que ia acontecer.
DANIELA/MARIE/TIAGO: Surpresaaa! – Gritaram do segundo andar, onde estava pendurada uma faixa a dizer: Bem-vinda a casa, Ana!
EU: Porque é que eu já sabia que iam fazer isto? – Comecei a rir porque o cenário estava exactamente como tinha imaginado.
TOM: Não gostamos de alterar rituais. – E começou também a rir-se.
O regresso a casa foi bom. Muito bom.
É tão bom voltar ao nosso sítio.
Diverti-me imenso na companhia dos meus amigos e da minha família.
Consegui dialogar com o meu novo pai. Concordava com todos: ele estava mesmo diferente.
LUÍS: Quando é que começam as sessões de fisioterapia? – Perguntou-me no início da conversa.
EU: Pedi para que começassem amanhã. Falei com aquele médico novinho e ele falou com o colega, já está tudo tratado.
LUÍS: Tens alguém para ir contigo? – Percebi que ao perguntar-me aquilo, era como se se estivesse a convidar para ir comigo, consegui perceber isso no olhar dele.
EU: Ter, tenho, mas não me importava que o pai viesse comigo. Aceitas? – Fiquei contente pela tentativa dele, por se importar com os meus problemas e querer ajudar-me a enfrentá-los.
LUÍS: É claro que aceito. – Sorriu e quebrou a sua máscara de homem frio e calculista, que usara habitualmente em tribunais para assustar os adversários.
EU: Amanhã combinamos melhor isso. – Saí daquele sítio, em rumo até à minha mãe, pela minha própria mão. Tinha que habituar-me a manejar a cadeira.
TERESA: Então filha, como é que vai isso? Tens força para isso? – Perguntou ao mesmo tempo que se deslocava ela, secalhar por perceber que ia até ao seu encontro, por isso, poupou-me o trabalho que tinha que fazer.
EU: Tenho que ter. Mãe, posso-te fazer uma pergunta?
TERESA: Sim, claro.
EU: Porque é que o pai mudou assim repentinamente?
TERESA: Por perceber, na tua ausência, que te estava a perder. – Sorriu, provando-me que afinal sempre fora capaz de mudar por alguém, nomeadamente, por mim.
Eu pensava que ele não era capaz de mudar por ninguém, acusando-o muitas vezes disso mesmo. Tinha-me feito morder a língua, ele acabou por mudar, acabou por provar que conseguia, esforçando-se para tal acontecer.
EU: Obrigada pelo esclarecimento. – Sorri e fiquei por ali. Já estava um bocado cansada andar de um lado para o outro.
O difícil estava para vir.
Quando a noite chegou, em conjunto com a hora de toda a gente ir dormir e o facto de eu não conseguir subir as escadas, fez-me ver que pensar que era fácil, era apenas uma ilusão criada por mim para amenizar o problema em si.
Mas nãol desisti assim tão facilmente.
EU: Ninguém me quer levar ao colo para o quarto? – Perguntei elevando a voz, para me sobrepor ao volume da música e para ser facilmente ouvida.
LUÍS: Eu levo-te. Quem é que leva a cadeira? – Perguntou olhando em redor para as outras pessoas que também estavam naquela sala.
TOM: Eu levo-a. – Ofereceu-se assim, o que fez o meu pai começar a subir as escadas. Olhei para trás e vi o Tom com a cadeira, um pouco atrapalhado, mas estava a vir quase à mesma rapidez que nós.
A chegada ao quarto foi rápida, já que o meu pai dava largos passos em direcção ao mesmo.
LUÍS: Estás entregue. – Pousou-me na cama, deu-me um beijinho na testa e preparou-se para sair. – Daqui a pouco venho cá ver se precisas de alguma coisa.
Sorri para o meu pai, sem o reconhecer, sinceramente. Era tão estranho, tão repentino, difícil de entender e de me habituar.
TOM: A tua amiga também já está aqui. Queres que hoje vá dormir a casa? – Perguntou, para tentar perceber se ia ficar lá a dormir ou se preferia que ele fosse dormir para casa dele.
EU: É claro que ficas aqui.
TOM: Eu vou até lá abaixo ao carro, buscar umas coisas.
EU: Até já. – Beijou-me e retirou-se rapidamente daquela divisão.
A cadeira estava muito perto da cama, pelo menos assim me parecia à primeira vista. Endireitei-me na cama e tentei ir até à cadeira, não consegui. Tive que me pôr de pé. Estava quase a alcançar a cadeira, quando as minhas pernas falharam e caí.
Fiquei completamente esticada no chão e impossibilitada de me agarrar a qualquer coisa para me levantar.
Arrastei-me até à secretária e agarrei-me ao puff que se encontrava lá encostado. Agarrei-me à secretária e tive que me sentar no puff, isto claro, se quisesse ficar sentada num sítio mais confortável do que o chão.
No momento daquela queda, apetecia-me chorar por me sentir inútil, como que um estorvo, mas depois, pareceu-me que seria mais fraca se o fizesse, do que tentar levantar-me sozinha, sem a mão de ninguém para me ajudar.
O Tom entrou pouco tempo depois, com uns CD’s na mão e com o rádio do carro.
TOM: Demorei pouco tempo, não demorei? – Sim, vendo bem, até demorou pouco tempo. Demorou pouco tempo, apesar de achar aquele momento, o mais demorado da minha vida. – Como é que já estás aí? – Perguntou-me quando se apercebeu que o meu assento inicial não era aquele.
EU: As minhas pernas ajudaram-me. – Constatei sarcasticamente. As pernas fizeram com que caísse e talvez, se não caísse, não me encontrava sentada naquele puff, por ser o sítio mais seguro naquele momento.
O Tom riu-se, mas acho que ficou sem perceber aquela minha afirmação.
TOM: Amanhã a sessão é a que horas?
EU: Deve ser por volta das 15h, mas eu queria ir antes, se fosse possível. Queria ir ver a Sónia, prometi-lhe.
TOM: Vamos logo depois de almoço. – Ri-me com aquela resposta. Éramos tão novinhos e já pareciamos um casal com responsabilidades e agenda marcada.
Vestimo-nos num instante e fomos logo para a cama.
Eu estava cansada, apesar de ser empurrada constantemente. Apesar disso, precisava de dormir porque ia ter um dia em cheio. O meu primeiro dia de fisioterapia.
Fomos acordados pela minha mãe, que madrugou, de certeza.
Rabujei um bocadito, mas passou rápido.
A minha mãe levou-me até à casa-de-banho para me ajudar com a minha higiene pessoal, já que agora manter-me em pé num chuveiro, era algo um pouco impossível.
Voltei para o quarto, já vestida e esperei que o Tom se despachasse, o que demorou um bom bocado.
EU: Já me podes levar lá para baixo? – Pedi carinhosamente, talvez por saber que sou pesada e que ele tinha-me que andar a carregar para cima e para baixo durante os próximos tempos.
TOM: Sim, já estou pronta. D. Teresa, leva você a cadeira? – Pegou-me ao colo e olhou para a minha mãe, que se encontrava atrás de nós, já a pegar na cadeira de rodas para a levar até ao piso anterior.
TERESA: Sim, sim, levo. – E já estava mesmo a levar. A minha mãe sempre foi muito eficiente.
Tomar o pequeno-almoço com as mesmas pessoas de sempre e ver que estes ainda lá estavam, era realmente bom.
Estava tão ansiosa para conhecer o meu fisioterapeuta e para ver a minha amiga Sónia.
O tempo passou a correr, como acontece no mundo cá de fora, sim, dentro do hospital, é um martírio para passar.
Estava na hora de me deslocar até àquele tão conhecido hospital e de me dirigir para a ala de oncologia.
EU: Olá, boa tarde. A Sónia está no quarto? – Perguntei à enfermeira, que gostava muito da Sónia desde o primeiro ano que esta se encontra internada no hospital.
ENFERMEIRA: Está, acabou agora de almoçar. Vai lá ter com ela.
Fui com o Tom até ao quarto catorze, tão meu conhecido.
Bati quatro vezes à porta e ouvi um “Entre” muito bem disposto.
EU: Olá. – Sorri ao vê-la olhar ansiosamente para a porta.
SÓNIA: Sempre vieste. – Sorriu também, por perceber que o que prometera antes de ter alta, estava a ser cumprido.
EU: Claro que vim. Olha, quero-te apresentar o Tom, o meu namorado. – O Tom deslocou-se até à cama da Sónia e cumprimentou-a com dois beijinhos, ao que ela respondeu de igual maneira.
SÓNIA: Já ouvi falar muito de ti. – Sorriu ao olhar para nós dois. Parecia-me a mim que ela hoje estava mais bem disposta e mais sorridente. Como tudo na vida, há dias para tudo.
TOM: Eu oiço o teu nome várias vezes ao dia.
SÓNIA: Já sei, como “ A Sónia, aquela rapariga que tem cancro.”
TOM: Não. “ A Sónia, aquela minha amiga do hospital. “
SÓNIA: Eu pensei que me identificasses assim, Ana. – Respondeu um bocado envergonhada com a observação que fez.
EU: Não é por teres cancro ou qualquer outra doença, que te vou chamar de “ A Sónia, a do cancro.” És minha amiga, uma rapariga igual às outras, quer dizer, igual não, mais forte. – Eu compreendo o lado dela; aprendi há pouco a compreender. É instantâneo, após saberem que temos algum problema/doença, haver pena misturada com outros sentimentos, vindos das pessoas de fora.
Olá, pessoas (a quem se lembra de mim :x).
Nunca mais tive tempo para vir cá ao blog .___. (para variar).
Espero que esteja tudo bem convosco.
Eu estou feliz. Muito. $: .
Bem, a fic já está a acabar. Mais um ou dois capítulos (não sei ao certo) e acaba.
Beijinhos grandes,
Ana.
Capítulo 46.
O Tom tinha ficado comigo naquela noite. A sua presença fez-me melhor do que qualquer outro comprimido, deu-me segurança e conforto, ao estar ao meu lado.
Eu cometi um grande erro, mas sabia perfeitamente que tinha que acartar com ele e só tinha duas possibilidades: ou lutava, ou desistia e aceitava a minha vida, sem me lamentar.
O sol bateu-me na cara ao mesmo tempo que nascia. Reflectia-se na minha janela com um brilho tão puro e intenso. Foi por causa desse brilho que acordei. Quando olhei, o Tom já tinha ido para a poltrona e senti um grande formigueiro na perna, o que me deu esperança. Comecei a carregar no botão para chamar a enfermeira e segundos depois tinha um médico ao pé de mim. O tal médico.
EU: Estou com um grande formigueiro na perna, parece que a sinto. – Disse mais animada e esperançosa.
DR1: Isso é normal acontecer, é por estar tanto tempo sem a mexer, sem lhe dar uso, por assim dizer. Desculpe desanimá-la. Tome estes comprimidos. – Deu-me para a mão mais um dos tais copinhos a que já estava habituada.
EU: Obrigada. – Respondi cabisbaixa.
DR1: Tem visitas, se tiver preparada, eu mando-os entrar.
EU: Pode mandar. – Esfreguei os olhos e queria saber quem é que estava ali para me ver. Ontem queria estar sozinha, mas agora, só queria estar acompanhada.
A porta voltou a abrir e comecei a chorar quando vi de que pessoas se tratavam.
EU: Desculpem-me, desculpem-me. – Escondi a cara, empurrando os joelhos contra o meu peito, talvez para não ter que os enfrentar.
LUÍS: Vai ficar tudo bem. – Abraçou-se a mim, o que me fez chorar ainda mais. Já há muito tempo que não me dava um abraço, que não tinhamos uma ligação pai-filha.
SARA: Mana, posso-te abraçar? – Perguntou Sara, um pouco receosa e olhando para todo o quarto, para as máquinas em que estava ligada e para os fios que me envolviam.
EU: Anda cá. – A Sarita apertou-me com tanta força, parecia que não estavam chateados comigo, que agora o porquê e como fiz aquilo, não interessava. Só interessava a minha recuperação, isto era o que eles queriam.
TERESA: Vais ficar de castigo até aos teus trinta anos. – Disse de forma séria, o que me fez rir a mim e a ela também.
EU: Tudo como quiserem. – Respondi assim. Nao fui malcriada e não respondia como das outras vezes, eu aqui sabia que tinha errado. Muito.
LUÍS: O que é que o Tom está aqui a fazer? – Perguntou ao mesmo tempo que olhou para a poltrona e viu-o lá, a dormir, no seu décimo sono.
EU: Eu e o Tom namoramos, pai.
LUÍS: Depois conversamos sobre isso, agora não é altura. – Respondeu de uma forma meio brincalhona, o que já não via no meu pai há imensos anos. Ultimamente era tão sério, tão ambicioso, tão gélido, conservador e agora, parecia ter mudado neste mês em que esteve fora.
Ficaram o resto da manhã comigo, a contarem-me as novidades e os detalhes da sua viagem. Não me perguntaram porquê é que tive a falta de consciência de pegar na mota e manejá-la de uma forma tão brusca e também não me perguntaram o que é que aconteceu para fazer tal coisa.
Fiquei contente por não o perguntarem, até porque as únicas pessoas que tinham a ver com isso, era eu e o Tom.
Os dias naquele hospital já começaram a fazer parte da minha rotina. O Tom todos os dias estavam comigo e até tinha bastantes visitas, nem me podia queixar.
DR2: Quer que deixe entrar mais uma visita? – Perguntou-me assim, um dos médicos que me acompanhou desde o início, mas que não era dos meus preferidos, sinceramente.
EU: Sim, pode mandar entrar, se faz favor. – Respondi, curiosa, para saber de quem se tratava.
O jeito meigo e os olhos verde-cristal, fizeram-me logo reconhecer aquela bonita figura. Vinha carregada com um elegante ramo de rosas brancas, que sinalizavam paz. Um ramo enorme, sem nenhum espaço por preencher.
EU: Estava a morrer de saudades tuas. – Cumprimentei então a minha Lúcia.
LÚCIA: Oh querida, dê cá um abraço. – Abraçou-me calorosamente, num jeito maternal.
EU: Não me vais ralhar? – Perguntei ao mesmo tempo que olhava para aquele bonito presente, que acredito que tenha sido dado com muito carinho, tal como foi recebido com muita gratidão.
LÚCIA: Acho que já ouviu raspanetes que chegue, não a vou chatear mais com isso. Já não vale a pena chorar sobre o leite derramado. Já está, já está. Agora vou rezar aos meus amiguinhos lá de cima para a ajudarem.
EU: Ainda consegues ter fé? – Questionei, já que não tinha nenhuma religião específica e também não acreditava em nenhum ‘Deus’. Era difícil acreditar, venerar e ter fé sem se ter uma fonte que transmita tais sentimentos. Lúcia era uma mulher ligada à religião e sempre a ouvi falar dos seus amiguinhos lá de cima, desde a mais tenra idade.
LÚCIA: A fé é que me tem salvo ao longo desta vida, minha filha. Eu sei que lá em cima alguém nos está a guiar. – Sorria ao mesmo tempo que me fazia festinhas na cara.
EU: Se assim fosse, onde é que estava o meu guia?
LÚCIA: Não pode pensar assim. Positivismo, menina.
EU: Os meus amigos já saíram lá de casa?
LÚCIA: Não, os seus pais deixaram-nos ficar lá mais uns dias, até você voltar. Fizeram umas mudanças quanto aos quartos, mas continuam todos lá.
EU: O Tom também?
LÚCIA: O menino Tom tem dormido no seu quarto, já o vi entrar para lá umas quantas vezes.
EU: E os meus pais sabem disso? – Perguntei preocupada, já que o meu pai estimava bastante as suas regras ditatoriais.
LÚCIA: O seu pai vem diferente. Percebeu que é importante para o seu namorado, que não há malícia nisso.
EU: Acho que tenho que voltar a conhecer o meu pai. – Sorri satisfeita e curiosa para conhecer um homem melhor. - Amanhã já vou para casa, se tudo correr bem. – Noticiei à minha segunda mãe, o que o médico me tinha dito logo de manhã.
LÚCIA: Os seus amigos já a vieram visitar?
EU: Já. Vieram cá ontem. – Respondi orgulhosa por tê-los do meu lado, que se mostraram verdadeiros e que em todas as ocasiões, estão lá.
LÚCIA: Agora tem que ser paciência. Muita calma, sabe disso. Estes primeiros tempos vão custar.
Sabe, o meu pai, quando eu era novinha, deu-lhe um AVC e teve bastantes problemas com as pernas, também teve que andar de cadeira de rodas. O senhor meu pai, que esteja em descanso, não quis fazer fisioterapia e ficou até falecer numa cadeira de rodas. Tome a decisão acertada, é tão novinha, não faça nenhum disparate.
EU: Eu vou voltar a andar. Para a semana já vou começar com a fisioterapia, o Tom vem comigo a todas as sessões. – Tomei a minha decisão, após ouvir tantos conselhos e apoios que me deram força para seguir em frente e lutar para remediar o erro que tinha cometido, mas que ainda ia a tempo de ser restaurado.
LÚCIA: Fico contente por assim ser.
A Lúcia foi-me contando as novidades, como andavam as andanças lá de casa, como iam as relações familiares. Falou-me da Sarinha, ao que parecia, também tinha mudado quanto ao facto de ser mimada e só se importar com bens materiais. Fez-lhe bem este tempo com o meu pai, tempo para o conhecer e para receber amor, coisa que nunca aconteceu comigo, nestas viagens de negócios.
Quando era pequena e quando ainda tinha que ir com eles para estas reuniões, quase puxada por uma orelha, é certo, ficava fechada no quarto de hotel ou ficava na piscina com as minhas bóias e com a minha mãe ao lado. Não invejava a sorte que a minha irmã estava a ter, não. Ficava contente por não ter o mesmo rumo que eu, ao que me tornei um pouco mais reservada, rebelde e fria ao longo dos anos de vivência com o meu pai, juntamente com a sua ocupada profissão.
Atravessava uma nova fase na minha vida. Tinha que voltar a aprender a andar e aprender a conhecer a minha família.
Não me arrependo de não ter ido com eles e também de não ter mudado, até porque também mudei neste último mês. Com todas as opções que tive que tomar, cresci um pouco e amadureci. Todos os erros que cometi e que ainda cometo, serviram e servirão para me definir enquanto pessoa e enquanto ser humano, que erra constantemente.
Mas, também levantar-me e aprender a dar uma volta à situação, é definir-me.
Definir é como limitar-se, mas não há um limite, é apenas imaginário.
O meu limite? Ainda vou a tempo de defini-lo. Hei-de encontrá-lo quando perceber que consegui tudo o que queria e que ganhei, perdi, mas que sobretudo, lutei para ter.
Estar numa cama de hospital e ver o mundo por um janela, mostrou-me muita coisa que sempre desprezei, que nunca dei o devido valor.
Desde que me encontro neste hospital aprendi a valorizar as coisas mínimas, que ao fim ao cabo, têm mais valor do que aparentam.
Um simples olá, um beijo, uma flor dada com carinho, uma companhia rotineira, um sorriso, um olhar, um simples passeio, um abraço, os sentimentos transmitidos, mas que não se vêem, sentem-se. É preciso aprender a sentir-se e descodificar algumas palavras ditas e saber ler entre as linhas, que podem ter mais sentido do que as próprias palavras verbalizadas.
De vez em quando, metem-me numa cadeira de rodas e levam-me até à sala de convivio, onde tenho que utilizar o elevador, visto que prefiro conviver com pessoas com diferentes problemas do que eu, ou seja, corredores diferentes do meu.
Arranjei uma amiga, um pouco mais nova, que tem um cancro na fase terminal.
Sei que no dia a seguir posso já não a ver, por isso é que aprendi a aproveitar 24 horas, por mais depressa que passem.
Já lido melhor com o meu problema, talvez porque tenha encontrado problemas mais duros e complexos.
Fui ter com a Sónia para me despedir, porque provavelmente seria o meu último dia de estadia nesta casa, que em tempos foi e vai ser a minha segunda casa.
EU: Como é que te sentes hoje? – Perguntei ao entrar no seu quarto, que não era partilhado por mais ninguém.
SÓNIA: Mais ou menos, ontem sentia-me melhor. – Disse-me cansada, cheia de olheiras e com um sorriso forçoso, onde estava instalada muita tristeza.
EU: Amanhã será um dia melhor, vais ver. – Não saber o que dizer a uma pessoa nestas condições, é um bocado triste, até porque um palavra, no momento errado, pode causar danos irreversíveis.
SÓNIA: Amanhã já tens alta, não é?
EU: Em principio, sim.
SÓNIA: Pois. – Respondeu de uma forma curta, que demonstrava algum desconforto.
EU: Mas não te preocupes, sempre que vier à fisioterapia, venho-te visitar.
SÓNIA: Isto se eu ainda cá tiver. – Respondeu negativamente, tal como eu já estava à espera.
EU: Não podes pensar assim, não te faz bem.
SÓNIA: Dependendo do que acontecer, queria-te agradecer por os pequenos grandes dias que me deste. Já estou cá há dois anos e nunca ninguém me fez sorrir tanto como tu. – Era inevitável ouvir isto e não me arrepiar, até porque sentia exactamente o mesmo, apesar do tempo de estadia ter sido muito menos.
EU: Sabes, o pouco mas extenso tempo que estive aqui, fez-me ver que nunca podemos ser egoístas ao ponto de pensarmos que o mínimo problema seja o fim do mundo. Também me fizeste sorrir várias vezes e deste-me muita força para perceber que era melhor aproveitar as oportunidades que tinha.
EU/SÓNIA: Um sorriso feito por ti. – Dissemos em uníssono, ao lembrarmo-nos de uma história que contei, cujo o título é esse mesmo: “ um sorriso feito por ti “, a história da minha vida resumida a um livro, apesar de ela não saber esse pormenor.
SÓNIA: Foi a história mais bonita que ouvi em toda a minha curta vida. – Relevou, ao falar dessa mesma história que inventei, numa das tardes em que estivémos juntas no seu quarto.
EU: Nunca te esqueças de sorrir. Um até sempre. – Dei-lhe um papel com os meus dados, onde constava a minha morada, o meu número de telemóvel e e-mail. Disse-lhe adeus e saí rapidamente do quarto, talvez para não começar a chorar e não a fazer chorar.
As despedidas nunca foram o meu forte.
Era duro dizer adeus a uma pessoa que nos fez crescer imenso. Os seus problemas, a sua força, a sua simpatia, a sua doçura, fizeram-me ver que somos capazes de tudo.
Tinha medo de um dia chegar ao quarto dela e não a ver no quarto, tinha medo que me dissessem o que não conseguia aceitar: o facto de ela ter que partir tão cedo, ainda com tanto para viver, com tanto para lutar, com tanto para sorrir.
Fui para o meu quarto, onde arrumei as poucas coisas que tinha, com a ajuda de uma enfermeira. Ao pegar num livro que o Tom me tinha levado, lembrei-me da fotografia que tinha com a Sónia, que estava dentro do mesmo. Retirei-a e sorri ao vê-la sorrir e também por me ter recordado dos segredos que partilhámos e da promessa que fizemos. Ia guardar para sempre essa promessa e iria honrá-la sempre que pudesse.
O resto do dia passou a correr e a minha alta foi dada de manhã cedo.
DR1: Gostei de ver o quanto mudou na semana que cá esteve. – Disse assim o meu médico preferido, que me deu a pior notícia da minha vida, mas que me ajudou em todas as ocasiões.
EU: Obrigada por tudo, obrigada mesmo. – Agradeci assim, isto se fosse capaz de agradecer tudo o que este doutor fez por mim.
DR1: Ainda nos vemos nas consultas de fisioterapia, eu vou estar nas sessões.
EU: Obrigada, mais uma vez. Espero que continue a ajudar outras pessoas, como me ajudou a mim.
DR1: Vou fazê-lo em todas as oportunidades que tiver.
Respondi com um sorriso e saí do quarto, onde me esperavam o Tom, os meus amigos, e a minha família, incluíndo, obviamente, a minha Lúcia.
Sorri também ao vê-los, talvez por não esperar que fossem todos buscar-me.
Olá, pessoal :D.
Bem, que saudades disto! O bem que os blog's, em tempos, fizeram à minha sanidade mental. Infelizmente, tenho muito pouco tempo livre para viver neste pequeno mundo, visto que é como um refúgio que quase ninguém conhece. O meu espaço.
E tenho que agradecer a quem ainda lê esta fanfiction que se tem prolongado ao longo de todos estes meses (já um ano... :x). Desculpem-me!
Continuando, espero que tenham tido um Natal fantástico, reunidos com a vossa família, com muitas prendinhas (apesar de não ser o mais importante, é claro). E espero, de coração, que tenham uma entrada no novo ano estrondosa. E que aproveitem todas as oportunidades deste novo ano. Como vai ser um ano par, não vai correr tudo bem - já sei. O ano de 2009 foi o melhor ano da minha vida. Só uma coisa é que o tornou mau; tudo o resto foi fantástico e só tenho que agradecer às pessoas que contribuiram para a minha felicidade. Fui realmente feliz.
Tive muitas e grandes prendas... A melhor foi um e-book, oferecido pela minha querida irmã (yay! até é minha amiguinha :p).
Espero que estejam felizes, tranquilas e que aproveitem cada momento.
Beijinho grande, mais um capítulo.
Capítulo 45
Dito isto, entrou-me no quarto um dos médicos. O que mais gostava, sinceramente.
Um médico jovem, com os seus vinte e muitos anos, de cabelo castanho com umas nuances loiras, quando o sol era reflectido nos seus cabelos.
Tinha uns olhos da cor dos do Tom. Castanhos, bonitos e profundos, que traziam grande segurança, mas que naquele momento pareciam carregar uma enorme responsabilidade.
Entrou aos poucos, com movimentos curtos e forçados, até que chegou por fim à minha cama. Respirou fundo e começou por discursar algo típico vindo de um médico.
DR1: Sabe que estamos a fazer de tudo o que ... – Começou por dizer.
EU: Avance. – Pedi-lhe eu, sem grande paciência para aqueles discursos.
DR1: Queria-lhe falar sobre o seu diagnóstico.
EU: E eu quero ouvir falar dele. – Sorri. Sem vontade, mas sorri. Sorri para dar alguma força àquele jovem corajoso que tinha tudo nas suas mãos. A minha vida incluída nesse todo.
DR1: Posso adiantar-lhe que as coisas não estão muito bem. – Disse. – Vou tentar facilitar isto para ambos os lados.
Concordei, ao que fiz um sinal de concordância com a cabeça.
Ajeitei-me naquela cama enorme e esperei que me dissesse o que se passava.
DR1: Pois bem ... A velocidade a que ia, o modo como chocou com o outro veículo e a maneira como embateu no chão, fez com que a sua medula comprimisse, ou seja, os seus membros inferiores deixaram de reagir aos estímulos e de reagir às suas ordens.
Você não sente as pernas, pois não?
EU: Não. – Respondi monossilabicamente, identificando-me com as suas últimas palavras.
DR1: Mas isto não é permanente. Há uma maneira ... Fisioterapia. O mínimo costuma ser durante um ano, mas pode variar, o seu caso pode ser diferente.
EU: A minha vida vai ficar parada? Eu não posso andar? – Perguntei completamente em choque ao imaginar a minha vida daqui para a frente. – Pode não haver essa possibilidade, não é?
DR1: Que possibilidade?
EU: Eu posso não voltar a andar, eu sei disso.
DR1: Só se a situação se agravar, o que não vai acontecer porque vamos controlar tudo o que de errado acontecer.
EU: Consegue controlar a Natureza?
DR1: Não, porquê essa pergunta? – Perguntou um pouco baralhado com aquela questão.
EU: Se as coisas aconteceram, é porque assim teve que ser, não se pode alterar. O senhor é médico, não tem forças nem poderes para fazer com que os problemas atrasem. Não pode, nem deve. Tudo tem uma razão para acontecer. – Gritei, sem calma, ao que me tornei determinista por pensar que é tudo pré-determinado, que se foi assim é porque teve que ser, como se aceitasse de bom grado tudo o que o destino me trazia naquele momento. Tornava-me determinista de um momento para o outro, como se sempre acreditasse nisso, o que não era verdade, até porque nunca tinha acreditado no destino.
DR1: Não está disposta a usufruir das consultas de fisioterapia que o hospital tem para lhe oferecer?
EU: Oferecer? – Gargalhei estupidamente. – O meu pai paga impostos. Ninguém dá para a ninguém, paga-se para ter. – Respondi arrogantemente.
DR1: Eu percebo a sua revolta, mas eu não tenho a culpa. Não me pode culpar. – Disse um bocado incomodado com o meu tom autoritário e infantil.
EU: Eu sei que a culpada sou eu, mas também sei que não vale a pena lutar por uma causa destas. Eu não tenho força para tentar. Se calhar é melhor assim. – Disse sem ênfase nas palavras.
DR1: Não diz que o seu pai paga para ter? Então, com todo o respeito, não deixe de aproveitar o que merece, o que é seu por direito. Lute até onde conseguir, até se pôr boa.
EU: Eu fico na cadeira de rodas.
DR1: E vai deixar de tentar viver?
EU: E acha que o tempo que leva até isso acontecer, vale a pena? Eu não tenho força para um processo tão demorado como este.
DR1: Nós também lhe damos o acesso a um psicólogo. – Sugeriu, após ter reparado no tipo de resposta que acabara de dar.
EU: Eu não preciso, obrigada.
DR1: Era melhor. – Tentou convencer-me.
EU: Pode-me deixar sozinha? – Perguntei quase a explodir de tantas emoções, que estava a viver naquele momento. Tristeza, frustação, arrependimento, cobardia, irresponsabilidade ... entre tantos outros que se sobrepunham aos anteriores.
DR1: Você é nova, não desista. – Piscou-me o olho e acabou por respeitar o meu pedido. Saíu do quarto e fiquei sozinha, o que coincidia com o que tinha pedido.
Precisava de um abraço, de alguém ao meu lado que me dissesse que iria ficar tudo bem.
Quer dizer, a verdade é que eu queria que ficasse tudo bem, tudo como era antes, em todos os sentidos.
Sabia perfeitamente que as pessoas iriam ter pena de mim, mas eu dispensava bem a pena delas. Se nem eu a tenho, não têm que ser elas a tê-la.
Ouvi a porta a abrir-se, o que me fez limpar as lágrimas e encostar-me à almofada.
TOM: Posso? – Perguntou espreitando por um freixe da porta.
Acenei com a cabeça, o que o fez entrar sem hesitar.
TOM: Queres-me aqui? – Perguntou, sentando-se ao fundo da cama.
EU: Preciso de ti. – Não queria saber do passado, do que tinha acontecido nele e das feridas que me tinha causado. Queria saber do futuro, no difícil futuro que iria ter a partir daquele dia e sem o Tom, até porque, ele parecia gostar da tal rapariga, até lhe contava coisas sobre mim, como se fosse motivo de chacota por parte dos dois. Se calhar ele gostava dela e só tinha que aceitar isso, só o queria feliz, apesar de ele me ter deixado mais triste do que algum dia poderia pensar.
Senti a segurança a invadir-me, quando o Tom me abraçou subitamente, sem me dar espaço para continuar a pensar sobre aquele assunto. Apertei-o com força contra mim, o que o fez apertar-me ainda mais. Apertei-o como se aquele fosse o nosso último abraço, como se o fosse perder depois de ele sair daquele quarto.
Quando o deslarguei, fixei-me nos seus olhos e recebi um sorriso que demonstrava alívio. Alívio por não o ter desprezado e privado daquele momento.
Quis beijá-lo e assim o fiz. Beijei-o e ao acabar, percebi que ainda o amava e o ódio e o sentimento de traição tinham-se evaporado por completo.
TOM: Queres falar? – Perguntou como se tivesse a falar com uma frágil criança. Era o que eu era naquele momento, era mesmo.
EU: Sim. – Eu precisava mesmo de falar, de partilhar com alguém o que sentia, tentar exprimir isso mesmo.
TOM: O que é que te fez pegar na mota e ir àquela velocidade? – Formulou a questão que mais confusão lhe estava a fazer; o porquê de eu ter pegado na mota e pior, o porquê de eu brincar com a velocidade como se fosse a coisa mais normal do mundo.
EU: Tom, eu sei de tudo. Podes deixar de tentar esconder a verdade. Eu preciso que sejas sincero comigo, já basta como me senti ao saber por mim própria toda a verdade.
TOM: Que verdade é que estás a falar? – Questionou confundido, como se não soubesse do que se tratava.
EU: Eu sei da Adriana, sei das mensagens que trocaram, do vosso encontro. Sei de tudo. Puxa, Tom! Porque é que não foste sincero comigo? Tu prometeste-me! Eu acreditei em ti, dei-te tudo o que conseguia, demonstrei-o e tu traíste-me. Traíste-me com uma pessoa qualquer e mesmo diante de mim. E ainda mais ... falaste-lhe de mim. Para quê? Deu-te gozo? Eu esperei tudo, menos isto.
Foi por isso que peguei na mota, por me teres mentido, desrespeitado o que era nosso e a promessa que fizeste. Eu aprendi, de novo, a dar valor às promessas feitas e tu fizeste-me ver que de nada adianta prometer, porque, a outra pessoa nunca cumpre.
Eu acelerei para tentar não me lembrar de tudo o que passámos e quando vi, já era tarde, estava diante de um camião com o quadrúpulo da minha altura e do meu peso, quer dizer, ainda mais. Estava diante dele e os travões não funcionavam. Eu vou ficar numa cadeira de rodas e sem ti. Acabou, Tom. Espero que sejas feliz a partir de hoje e não faças o que me fizeste a mais ninguém, magoa tanto, mas tanto, nunca hás-de perceber o quanto dói. – Não consegui impedir o choro, até porque a dor tinha voltado em grande, tais como as lágrimas.
TOM: A Adriana? Ana, a Adriana não é quem tu pensas. Eu não te traí, nunca o ia fazer. Tu fizeste isso por causa de mim? Então, quer dizer, a culpa é minha? – Perguntou fora de si, como se o mundo tivesse caído em cima dele, como se a culpa que sentia fosse mais pesada que o mundo.
EU: Tom, a culpa não é tua, a culpa é minha, mas não me mintas. – Supliquei, mais uma vez.
TOM: Queres saber quem é a Adriana? Eu digo-te.
EU: Não precisas de entrar em detalhes, já basta o que li e já basta ter ouvido a voz dela. Ela é mais velha que eu, não é? Pois, parece que o amor escolhe mesmo idades, sou uma criança ao pé de ti, não? É isso que sentes?
TOM: Ana, pára! – Gritou, ao mesmo tempo que tapava os ouvidos para não ouvir o que dizia. - A Adriana é a organizadora dos campeonatos em Nova Iorque. O patrocínio é de Portugal, a companhia dela é de Portugal, mas como ela mora aqui e como sabia o que ela exercia, tentei convencer-lhe a organizar um campeonato em Nova Iorque, para ti. Somos amigos desde infância! – Esclareceu, tapando a cara de seguida.
EU: Quer dizer que tu nunca me traíste? Eu precipitei-me? Tom, eu li a mensagem, Tom! – Gritei e recomecei a chorar, agarrando-me aos lençóis e a puxá-los contra mim. – Eu estraguei a minha vida, eu estraguei tudo.
TOM: Desculpa, era surpresa, eu não podia contar. Bolas, Ana! Porque é que não me perguntaste, porque é que não esclareces-te tudo?
EU: Tom ... Desculpa. Desculpa-me, por favor. Tu não és o culpado, a culpa foi minha. Eu sei que te vais embora, eu sei que não devia ter feito isto, mas eu não sabia. Eu não queria isto. Desculpa-me só te peço isto. Perdoa-me. – Agarrei-me a ele e ele acabou por me empurrar contra a almofada.
TOM: Ana, eu não te vou deixar, mas porque é que fizeste isto? Porquê?! – Perguntou também já a chorar. Sentia-se culpado por o que me aconteceu, mas ele não tinha culpa.
EU: Os ciúmes estragaram tudo, outra vez. Estragaram a nossa relação, a minha vida... – Fui interrompida.
TOM: ... A nossa vida. Eu não te vou largar agora. Vamos conseguir juntos.
EU: Vamos conseguir o quê?
TOM: A tua recuperação, tu vais conseguir, vamos conseguir.
EU: Eu fico na cadeira. Tu segues a tua vida e eu sigo a minha, não te quero prender a mim por causa disto, não era o que queria.
TOM: Nunca mais digas um disparate desses. Juntos, Ana. Tu tens que lutar, nunca foste de desistir.
EU: Acabei por desistir da minha vida, da maneira mais estúpida.
TOM: Ainda tens uma alternativa. Não desistas! – Repreendeu-me.
EU: Abraça-me. – Supliquei-lhe ainda a chorar.
TOM: Sempre. – E foi até mim, para me abraçar, como lhe pedira.
Olá.
Eu sei, não venho cá aos anos, mas tive um tempo livre e apeteceu-me postar (ter tempos livres é realmente difícil).
Quero férias! A segunda fase de testes está prestes a acabar e eu anseio, peço, IMPLORO pelo início das férias. Vá lá, venham, amiguinhas, preciso de vocês (aa).
Beijinhoo, saudades de tudo isto (L).
Capítulo 44
Tentei pôr a chave na ignição, mas falhei. Tentei outra vez e outra; não consegui.
Talvez por as minhas mãos tremerem cada vez mais e a minha vista não ver como deveria, por causa das lágrimas. Lágrimas estúpidas que caíam descontroladamente. Eu tentava pará-las, mas não conseguia, não tinha capacidade para isso.
As ditas cujas, faziam-me lembrar os ciúmes, anteriormente falados. Ciúmes são, na minha perspectiva, irracionais. Sou capaz de afirmar que as lágrimas também o são. Duas coisas irracionais que não respeitam nada, nem ninguém. Ninguém tem controlo sobre os ciúmes, sentimento abstracto que se apodera de nós de uma forma incrível, nem sobre as lágrimas, conseguem-se tocar, mas não se conseguem parar, uma vez que não se controla o nosso interior, a dor instalada no peito. Vêm de dentro de nós, do nosso coração, da tristeza que também se apodera de tudo o resto e que nos faz chorar. Chorar e chorar, sem controlo nem fim à vista.
Tristeza causada por alguma ferida feita por alguém. As feridas custam a sarar, isto se, algumas vez saram para sempre.
A ferida que me fazia chorar tinha sido causa por o Tom, não era uma pessoa qualquer. Era o meu namorado. Era ! Verbo ser, na terceira pessoa do singular, pretérito imperfeito do modo indicativo.
Imperfeito, era o que ele era.
Não falo de imperfeição quanto ao seu corpo, à sua imagem, à sua fala, à sua voz ... Não!
Falo de imperfeição quanto ao seu carácter, quer dizer, a falta desta preciosa qualidade.
A falta dos seus sentimentos, a falta em cumprir promessas, o facto de não saber honrar a nossa relação e o que fizémos juntos.
Supostamente, ele tinha mudado por mim. Tinha-me provado que era meu e eu dei-lhe uma grande prova do que sentia, demonstrando-o.
Da demonstração do afecto que tinha por ele, restou isto ... uma traição.
Um acto que me magoou em silêncio, em câmara lenta, quase que impossível de sentir, mas sentiu-se. E de que maneira, da pior maneira possível.
Subi para o assento da mota e meti a chave na ignição de uma forma brusca, já sem paciência devido às falhas anteriores.
Consegui encaixá-la. Era só rodar a chave e deixar de lado todas as lembranças que tinha do Tom. Queria esquecer que ele alguma vez fez parte da minha vida. Era difícil, afinal, eu ainda o amava, mas, simultaneamente, odiava-o. Como nunca odiara ninguém.
Saí calmamente daquela garagem escura e deprimente que me traziam lembranças de alguns momentos passados com ele. Pus-me à estrada, com a minha mota. Ia sozinha, apenas com ela, com algum dinheiro no bolso e sem capacete, o que já era habitual.
A velocidade em que ia já me fartava, por isso, aumentei um pouco a fasquia, o que fez com que a adrenalina também aumentasse.
As lágrimas já tinham sido secadas com o vento e eram impossibilitadas de cair, pelo mesmo. Alguma coisa que as fazia parar: a Natureza.
Ainda não satisfeita com aquela velocidade, aumentei novamente. Fui aumentando e aumentando, até que cheguei ao limite. 100 Km / h, estava a dar a minha mota.
A adrenalina tinha-se apoderado de mim e antes o que era choro e mágoa, transformou-se em energia. Uma mudança explosiva, que em nada se assemelhava.
Aconcheguei-me no assento e continuava a pedir o máximo da minha companheira.
A velocidade às vezes tinha falhas, mas nada que não se recuperasse, segundos depois.
Passava sinais vermelhos, andava aos ziguezagues por aquelas estradas fora. Nada me preocupava, a estrada estava na minha posse, estava quase deserta.
Mais uns sinais vermelhos, uma rotunda e um sinal vermelho, ao qual passei nas maiores das velocidades e despreocupações.
O sorriso que carregava até ali graças àquela forma de me abstrair do que aconteceu, mudou completamente quando um camião vinha na mesma direcção em que eu ia.
Tentei travar, mas os travões não me obedeciam, tentei pôr os pés no chão de modo a fazê-lo, mas sem sucesso.
Sentia a presença do camião cada vez mais perto de mim e ouvia as inúmeras apitadelas que o condutor daquele grande veículo, dava.
Ouvia também as buzinas dos outros carros que esperavam que o sinal vermelho abrisse, mas por mais que quisesse travar e sair daquele cenário, não consegui. Nada conseguia fazer naquele momento.
Parecia que tudo tinha parado, só eu é que não o conseguia fazer.
Quando vi que a minha mota já estava perto do camião, fechei os olhos. Talvez por reflexo ou por medo. Medo de assistir aos danos que aquilo iria causar sobre mim.
Senti o embate na parte da frente do motociclo, senti o meu corpo a elevar-se depois daquele choque. Sentia-me a elevar numa grande altura, uma altura que me assustou mesmo muito e que fazia o meu coração bater cada vez mais.
Vi tudo a mudar, quer dizer, senti. Os olhos permaneciam fechados e depois de sentir o meu corpo a cair brutalmente no chão, não me lembro de mais nada. Ficou tudo suspenso.
“ Pulsação 30, pulsação 30, respiração instável. Estamos a perder o pulso. Recuperação do pulso. Oxigénio, rápido! 150 ml de soro, dois sacos e dois litros de sangue AB. Rápido, despachem-se! “
Acordei com todas aquelas palavras, que me pareceram ser ditas em grande pressão.
Abri os olhos devagar, fechando-os instantaneamente graças à luz clara que ali predominava.
Estava num lugar completamente desconhecido e não fazia a mínima ideia de como é que fui ali parar.
Abri os olhos, mas não falei. Via batas brancas, testóscópios e sacos de soro.
Estava num hospital, era para o que apontava tudo aquilo que visualizava.
DR1: Acordou! Enfermeira, traga os comprimidos e um calmante dos mais fortes, por favor.
DR2: Menina, eu vou precisar do teu nome e do número de telefone de alguém da
tua família.
DR3: Não é preciso falares, escreves neste papel. – Encaminhou-me um caderno onde tinha preso uma caneta vulgar de cor preta.
DR1: Tu tiveste um acidente de mota, toma este comprimido. Mais tarde explicamos-te o que aconteceu. – Deu-me um copinho de plástico, dos mais pequenos, onde estavam diversos compridos com diferentes cores e formas e também me deu uma garrafa de água.
Naquele caderno escrevi o meu nome e o número de telefone do Tom.
DR2: Ana Vale de Andrade, muito bem. Vou ligar ao seu pai para se deslocar até aqui para lhe explicar o seu diagnóstico.
EU: Nã...o. – Tentei pronunciar-me mas não correu muito bem, a minha voz não era a mesma. Estava fraca, sem vida, com uma pontinha de medo e de susto, consequência da minha irresponsabilidade em estar sem capacete e ir naquela velocidade exuberante.
Fiquei calada e escrevi no caderno.
“ Não é o meu pai, é meu namorado”. Ao lembrar-me do que tinha acontecido connosco, acrescentei à palavra namorado, um “ex”. Ex-namorados, era o que éramos daqui para a frente.
DR3: Vamos já tratar do assunto. Descanse.
Ao mexer-me, só a parte de cima do meu corpo se mexeu. Parei e mexi as pernas. Eu mexi-as mas não as sentia. Abanei-as e voltei a abanar, batia uma contra a outra mas era inútil. Aterrorizada com o que passei a perceber, comecei a chamar o médico e puxei-o pela bata, repetidamente e de uma forma agressiva, devido ao medo que se instalava em mim e que fazia bombear o meu sangue de uma forma avassaladora.
DR1: Descanse, falaremos disso depois.
Como não fiquei satisfeita com aquela justificação, depois dos médicos se retirarem do meu quarto, tentei que a enfermeira que me estava a trocar os sacos de soro vazio por sacos cheios, falasse, o que não aconteceu, já que encolheu os braços e que me disse “ Tem paciência.”, saindo do quarto no minuto a seguir.
Acabei por adormecer. Os meus olhos fecharam-se quase sem eu dar conta, secalhar os comprimidos começavam a fazer efeito.
Tinha dormido bem, como já não dormia há muito tempo. Dormi tranquilamente, sem interrupções. Sentia-me leve e descontraída, isto claro, até mexer as pernas e concluir que ainda não as conseguir mexer, estava cada vez mais preocupada.
Fui esfregando os olhos ao mesmo tempo que os abria. Estava com tanta sonolência. Já tinha dormido tanto, mas parecia precisar de dormir mais.
Olhei para a poltrona e conheci a figura que ali se apresentava.
Não queria falar nem com essa pessoa, nem com ninguém. Esse indivíduo não tinha reparado que já tinha acordado, por isso, fechei os olhos e fingi que ainda estava a dormir.
Não queria falar com ninguém, era melhor estar sozinha. Ainda não sabia o que se passava comigo, as sequelas que aquele acidente de mota podia causar na minha vida, no futuro.
Mas,conhecia bem aquele silêncio vindo dos médicos, conhecia-o bem demais. Era como nos fimes, exactamente igual: enrolavam-se, contradizem-se e tentam ganhar tempo para não terem que dizer a verdade, até porque, também lhes custava ter que dizer diagnósticos que podiam condicionar a vida de algum doente.
Já tinha pensado em mais que um diagnóstico para mim, onde predominava o pior, talvez para já estar preparada para o que viria aí.
As minhas pernas não mexiam, não as sentia. Só, periodicamente é que sentia um formigueiro durante um tempo que depois acaba por parar.
Eu não estava bem, de certeza.
Como não consegui dormir, até porque já tinha dormido muito, comecei a pensar nos momentos bonitos que passei com o Tom. Parecia que o amor estava a ultrapassar o ódio, talvez por conseguir ter mais força que o segundo.
Estava naquela cama de hospital, num quarto onde tudo era branco, com aquele cheiro característico, rodeada de material esterilizado, que a enfermeira se tinha esquecido de levar. Já estava um bocado farta de ter que fingir que estava a dormir, era um bocado desconfortável.
Ia abrindo os olhos para tentar ver o que ali se passava e reparei que dois dos médicos que já tinham estado comigo no princípio, se encontravam no mesmo quarto que eu.
Estes mesmos médicos, deslocaram-se até à poltrona preta que dava algum contraste àquele sítio onde estava hospitalizada e o que dava assento a quem não deveria dar, pessoa essa que nem deveria estar ali.
Depois de mais umas quantas espreitadelas e depois de observar a cara de preocupação daquelas três pessoas, resolvi acordar, talvez me dissessem o que precisava de saber.
Abri os olhos e tentei que notassem que já estava acordada, ao mandar uma garrafa de água que estava na minha cabeceira ao chão. Ao fazê-lo, rapidamente os olhares se centraram em mim.
Ter que olhar para o Tom foi mais difícil do que estava à espera. Foi difícil porque sabia perfeitamente que as coisas não iam ser como antes.
DR2: Já estás acordada, muito bem. – Começou a anotar uns valores num conjunto de folhas presas.
DR3: Parece que está a reagir bem aos medicamentos. Óptimo. – Partilhou esta opinião com o outro doutor que ali se encontrava.
EU: Diga-me ... – Tentei que os médicos me dissessem o meu diagnóstico.
DR1: Eu vou tentar explicar-lhe de uma maneira simples, para que perceba.
EU: Espere ... – Apontei para o Tom, que ainda ali estava, agora de pé, junto a mim. Apontei como se estivesse a mostrar a minha insatisfação perante aquela presença.
DR2: O seu namorado precisa de saber o seu diagnóstico.
TOM: Ana, o que é que se passa? – Perguntava com uma voz serena, como se não soubesse o que tinha feito.
EU: Diga-me só a mim, tire-o do quarto, se faz favor. – Pedi educadamente, controlando-me para o fazer.
DR1: É normal que ela esteja a reagir assim, deve ser dos medicamentos. – Disse num pequeno à parte ao Tom, mas que eu consegui escutar.
Depois desse à parte, esse mesmo médico saiu com o Tom, deixando-me com o primeiro médico, aquele que me queria explicar o que tinha.
DR1: Eu já volto, vou só buscar mais um saco de soro. – E saiu porta a fora, sem me dar tempo para responder.
Entretanto, lá fora, esses mesmos médicos, encontravam-se no corredor com o Tom.
TOM: Porque é que a Ana está neste estado?
DR1: A Ana teve um acidente de mota, como já deve ter percebido ...
TOM: Sim, eu sei. – Interrompeu. Já sabia porque é que eu estava naquele hospital, não sabia era o porquê de eu estar naquele estado psicológico, o facto de o ter expulsado do quarto e não querer que ele soubesse o que se estava a passar comigo.
DR2: ... O resultado foi uma compressão da medula espinal, provavelmente pela velocidade em que ia e talvez pela maneira que caíu no chão, que foi o mais grave. Foi uma queda bastante perigosa, foi uma sorte a Ana não ter ficado em coma.
TOM: Isso que dizer exactamente o quê? – Perguntou um bocado trocado com todos aqueles dados.
DR2: A Ana vai ter que andar de cadeira de rodas, já que as suas pernas não recebem “ordens”, por assim dizer, da medula. Como as “ordens” não são dadas para os membros inferiores, ela está impossibilitada de andar.
DR1: Ela não sente as pernas, de vez em quando é que sente uns esticões ou formigueiros, mas não quer dizer nada, até porque se a Ana se levantar, como não tem reacção nas pernas, ela acabará por cair. – Completou desta forma o médico mais novo, de modo a esclarecer Tom e também para fazê-lo perceber a gravidade do meu diagnóstico.
TOM: Mas não há nada que se possa fazer? Não há nos EUA ninguém capaz de resolver este problema? Estamos nos EUA, tem que haver alguém! – Perguntou com algum transtorno depois de perceber o que realmente se passava e as dificuldades que eu ia ter daqui para a frente. A minha independência era o que mais estimava, e agora, tinha-a perdido. Ele sabia isso, melhor que ninguém.
DR1: Só a Ana é que é capaz de o fazer.
DR2: Fisioterapia. Todos os dias, durante duas a três horas por dia.
TOM: Isso ajuda-a em quê? O que é que altera?
DR1: A fisioterapia vai fazer com que haja a descompressão da medula e com isso, as pernas dela voltarão a reagir.
TOM: E isso vai acontecer depois de quanto tempo?
DR2: A essa pergunta não lhe consigo responder. Depende da Ana, do esforço que fizer, do fisioterapeuta que lhe calhar e também da dificuldade da sua situação; ainda não se sabe a profundidade da compressão.
TOM: E vão saber isso quando?
DR1 Provavelmente quando tivermos em nossa posse as radiografias necessárias para o apurarmos.
TOM: Ela já sabe? – Perguntou receoso.
DR2: Não, era sobre isso que queria falar consigo. Será que pode ser você a dar-lhe a notícia? – Disse ao procurar uns papéis, despreocupadamente, como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo, em que ele não tinha responsabilidades e que o melhor era ser o Tom a contar-me.
TOM: Desculpe?! O senhor está a pedir-me para fazer o seu trabalho? – Perguntou completamente impressionado e ofendido com tal pedido.
DR2: Veja bem ... era melhor tanto para a paciente, como para nós. Além do mais, se fosse você a dizer, ela perceberia melhor.
TOM: Sim, e para mim? Sabe o que me custa ver a Ana assim, saber o que ela vai ter que passar, o que está a sofrer e ainda vai sofrer ainda mais quando souber a verdade? Não, não sabe. E quer que seja eu a dizê-lo? Desculpe, mas não esperava este pedido. Como é óbvio, não o vou fazer.
DR2: Tudo bem, era só uma hipótese. – Disse, mostrando-se um pouco arrependido graças à frieza que utilizou para fazer aquele pedido. Foi só pensado do lado dele, sem querer ver os outros lados em jogo e de como isso poderia-os afectar. Fora egoísta e utilizou a sua profissão para pedir algo que não se pede a ninguém. Era esse o seu ofício, por isso, tinha que seguir todos os passos, tinha que fazer tudo o que lhe competia, só a ele, a mais ninguém.
DR1: Fique aqui, vou ser eu a dizer à Ana.
Olá, pessoas :D.
Espero que estejam bem ^^.
Beijinhos grandes @
- Agora os próximos capítulos vão tornar-se mais dramáticos, vão conhecer a verdadeira essência da história :$.
Capítulo 43
Foi a minha vez de sair daquele sítio, no qual permanecia já há algum tempo.
Fui a tentar desdobrar o pequeno papel que se perdia nas minhas mãos, graças à sua mísera dimensão.
Apesar da dificuldade do procedimento, consegui começar a desdobrar aquele papelinho.
Desdobrei uma vez, outra, novamente a mesma acção e, por fim, tinha à minha vista a mensagem daquele bilhete: números.
Comecei a contar os algarismos e a minha primeira impressão, acabou por se confirmar. Naquele papel constava um número de telefone, sem mais dados por onde pegar. Não tinha nome, descrição, não tinha nada a não serem aqueles números solitários.
Peguei no telemóvel e comecei por marcar o primeiro algarismo. Com algum receio e indecisão, continuei a marcar os números que restavam e carreguei na opção ‘chamar’, o que me fez aclarar a voz e engolir em seco.
VOZ: Estou sim, quem fala? - Perguntou, do outro lado da linha, uma voz feminima que aparentava ser jovem. Rapariga esta que tinha uma voz bastante harmoniosa e confiante.
Respirei fundo e tentei continuar a chamada de forma calma, já que a minha cabeça começava a formular mil opções para o porquê daquele número de telemóvel e, consequentemente o porquê de ser uma rapariga a atender.
Eram formuladas hipóteses, graças ao antigo historial do Tom, em que raparigas eram a palavra de ordem e os sentimentos secundários. Historial este que acabou por ser esquecido, não digo apagado, mas esquecido porque deixou de ficar sem efeito com o início do nosso namoro. Namoro este que dependia dessa prova, prova essa que foi dada e que me fez deixar em suspensão as tristes decisões feitas pelo Tom, no passado.
EU: Olá Sofia! Tens falado com o Tom? - Perguntei meio a tremer. Mentira para tentar perceber o que ali se passada. Talvez conseguisse, ou então não.
VOZ: Tom? Desculpe, mas não me chamo Sofia, deve estar a fazer confusão. - Respondeu de uma forma um pouco incomodada que desmanchou por completo o que pensara anteriormente.
EU: Sim, Tom. Tom Kaulitz. - Ignorei por completo a segunda parte, já que só a primeira é que me interessada. Ignorei também o tom com que me falava, autoritário, por sinal. Também não pretendia criar laços com aquela rapariga, só queria saber o porquê de tudo aquilo.
VOZ: Sei quem é, mas desculpe, importa-se de me dizer quem fala? - Questionou, já sem paciência para aquele jogo de palavras. Para a pessoa que atendeu o telefone era apenas um engano, como tantas vezes acontecem. Para mim era mais que isso, muito mais que palavras trocadas.
EU: Sabes? – Perguntei um bocado desiludida, talvez por esperar que aquele número fosse apenas isso : um número de telefone . 9 algarismos que não quereriam dizer nada. Tinha esperanças; tinha mesmo. Acabei por perdê-las, logicamente, depois daquela confirmação. – É claro que sabes ! – Continuei eu, disfarçando um pouco, metendo em prova as minhas aptidões teatrais, o que me fez soar um risinho estúpido e cínico. – Têm falado? – Rematei por fim. Um conjunto de palavras que podia ter uma resposta não muito agradável para mim.
VOZ: Faz o favor de me dizer quem é? Já estou a perder a paciência, sinceramente. Vou desligar. – A rapariguinha era persistente. Persistente e estúpida. Sim, estúpida por dar conversa a uma pessoa completamente desconhecida (que por acaso era eu).
Uma pessoa normal não daria conversa a um desconhecido. Ainda bem que não era normal. Ainda bem para mim.
EU: Podes-me responder, Sofia? – Mais uma vez ignorei as suas ameaças, até porque sabia perfeitamente que ela ainda não tinha desligado, nem ia desligar tão cedo.
A forma como lhe tratava era pessoal, como se a conhecesse e continuava com este registo de língua sem problemas nenhuns, até porque tentava levar a história da “Sofia” até ao fim daquela chamada, sem me desmascarar, muito menos meter o pé na argola.
VOZ: Eu já percebi que a senhora conhece o Tom, portanto, acho que não há problema em revelar. Sim, falamos, tudo bem. Agora ... porque é que deseja saber? – Combinação perfeita: resposta encontrada e pergunta complicada. Respondeu ao que queria saber, mas, por outro lado, fez uma pergunta que não podia, nem queria responder.
EU: Mas devem falar muito, não é? – Ignorei-a mais uma vez, o que já era comum.
VOZ: Espere aí ... Fala a Ana, a namorada do Tom? É que eu lembro-me de ele ter dito que você, em algumas palavras, não dizia os L’s. Então como est... – Interrompi-a automaticamente, desligando a chamada.
Pousei o telemóvel e subi as escadas com uma velocidade incrível, velocidade que me deslocou até ao quarto do Tom.
Ao estar diante daquela porta de madeira em que reflectia a luz do corredor e que se tornava mais brilhante que outrora. Abri-a devagarinho para não acordá-lo. Entrei pé entre pé,retirei o seu telemóvel da mesa de cabeceira e de seguida, que foi num instante, saí do quarto e sentei-me no corredor iluminado por uma luz que conseguia encadear os olhos.
Calma já não conseguia ter, depois daquela chamada, sentia-me mesmo enganada. Mas, para não ser ainda mais precipitada, fui buscar o telemóvel do Tom para conseguir ter certeza do que se passava diante da minha vista.
Procurei as chamadas recebidas, onde a lista não era muito diversificada. Tinha quase sempre os mesmos nomes: Adriana, Adriana, Adriana, Ana (L), Bill, Mãe.
Ao que parece, a tal rapariga das chamada, chamava-se mesmo Adriana. Um nome que me parecia português, mas podia estar a fazer confusão, graças a ausência que tinha sobre a cultura do meu país de origem. Mas pronto, parecia-me irrelevante. Podia não querer dizer rigorosamente nada.
Resolvi ir ler as mensagens. Eu sei, invasão de privacidade, mas precisava de saber.
“ De : Adriana.
Mensagem: Okay, fica combinado, não te preocupes com nada, eu trato de tudo.
Hoje às 20h.
Não tens que agradecer, eu percebo. Eu sirvo para isso ;). Beijo grande. “
Vi os detalhes desta mesma mensagem, que era a única da caixa de entrada.
Marcava o dia de ontem.
Às 20h, o Tom não se encontrava em casa, chegou duas horas depois com um sorriso nos lábios, mal falava comigo. Nem comigo, nem com ninguém, andava sempre com o telemóvel para cima e para baixo.
Perguntei-lhe o que se passava, para ter a felicidade estampada na rosto, mas só ouvia: “ Já falo contigo.”
Já tudo me parecia mais claro, quer dizer, mais negro. Já não havia mais espaço para dúvidas, já não conseguia pensar que era tudo um mal-entendido. O Tom tinha-me traído!
Mandei o telemóvel para o chão com uma brutalidade excessiva e desci novamente aquelas escadas. Raio das escadas!
Saí de casa com a vista completamente turva graças às lágrimas que insistiam em acumular-se nos meus olhos.
Lágrimas demasiado salgadas e gordas, que rolavam continuadamente pela minha cara em grande velocidade.
Tive o cuidado de guardar no bolso as chaves da minha mota, até porque sabia perfeitamente o que queria fazer naquele momento.
Meti-as no bolso e dirigi-me até à garagem. Abri-a e avistei a minha mota; rapidamente fui ter ao seu encontro.
Olá, queridas.
Muito obrigada pelos comentários e desculpem a ausência temporária; há dias que nem passo pelo pc, visto que chego tarde a casa.
Capítulo 42
LÚCIA: Bom dia queridos. Eu tenho que ir às compras, penso que já está tudo, que não precisam de mais nada ...
EU: Olá. Está tudo óptimo, não te preocupes. Vai lá. - Sorri.
BILL: Parece que hoje quem está com o sorriso parvo porque coiso és tu. - Disse baixinho ao irmão que se preparava para dar uma trinca no pão-de-leite.
TOM: Está calado, Bill. - Ignorou por completo o irmão e continuou lá no seu cantinho, descansado a tomar o pequeno-almoço.
DANIELA: Bem, como estamos de férias, que tal irmos à piscina?
TOM: Já está aberta?
BILL: É claro, parvo! Estamos no Verão.
EU: Estás sempre a tratar mal o teu irmão. - Levantei-me da cadeira e fui até ao Tom. Ele fez com que me sentasse ao colo dele.
BILL: Tão protectoras que estamos. - Gozou.
DANIELA: Deixa-os em paz, Bill. Vai-te vestir, vá. Começo a contar o tempo. 5,4, ... Vá, mexe-te.
BILL: Está bem, está bem. Estou a ir, não vês? - Disse saíndo da cozinha.
DANIELA: Eu vou atrás de ti, mexe essas pernas. - disse ao mesmo tempo que o empurrava para a frente.
TOM: A sós. - Sorriu.
EU: Ó Tom, ultimamente estamos sempre sozinhos. - Ia a sair do colo dele, mas ele impediu-me, deixando-me sem saída.
TOM: Já vamos, nós vestimo-nos rápido. - Beijou-me, beijou-me e voltou a beijar. Parecia uma máquina de dar beijos graças à velocidade que os dava.
EU: Hey, Tom, tem calma. - Tentava corresponder mas era um bocado difícil beijar àquela velocidade.
TOM: Agora já podes. Vais com que bikini, posso saber? - Gozou.
EU: Tom, pára lá com a perversidade xD. Até parece que nunca me viste de Bikini.
TOM: Já, mas era diferente. Agora somos namorados.
EU: Sim, sim, não abuses. - Saí do colo dele. - Vá, anda lá vestir-te. - Puxei-o.
TOM: Estás cheia de pressa.
EU: O dia tem que ser aproveitado. – Continuei a puxá-lo, talvez para o obrigar a ir-se vestir.
Subímos as escadas, vestimo-nos, arrumei as toalhas numa mala minha, hiper grande e descemos, já prontos e desejosos e apanhar uma corzinha já que estávamos brancos que nem cal.
A entrada na piscina era um bocado cara mas valia a pena, já que poupávamos tempo porque a praia era muito longe da minha casa, apesar de podermos ir de carro, mas fizemos um acordo ... Durante o dia só usaríamos os carros se fosse realmente necessário, caso contrário andaríamos a pé.
Meu deus, nunca pensei que o primeiro dia de piscina soubesse tão bem. Mergulhei até me fartar, ri e ri sem pensar no amanhã, brinquei como uma criança de 5 anos, saltei, molhei o Tom e afins, distraí-me com uma bola, comi dois gelados, torrei ao sol, afoguei o Tom (sem sucesso, porque o feitiço virou-se contra o feiticeiro e lá fui eu até ao fundo da piscina), namorei, voltei a rir, e assim sucessivamente.
Que dia em cheio. Estava tudo tão bem, sem nada a estragar.
Apesar do Tom partilhar a casa comigo durante um mês, parecia-me pouco, porque durante um mês viveu-se tanta coisa ...
Devem pensar “ Que inconsciente, namora há um mês e já se entregou de tal maneira a ele “ ... Querem saber um coisa? Desde que cheguei a NY, o Tom sempre me chamou à atenção. O sentimento ia aumentando de dia para dia, apesar de no passado não querer, mas hoje é o que se vê. Namoramos.
A ida à piscina acabou por ser benéfica para todos, já que voltámos para casa com altos sorrisos, super contentes e entusiasmados por variadíssimas coisas, principalmente por estarmos de férias.
O dia seguinte foi muito calmo.
Para ser sincera, tirámos o dia para descansar, já que as andanças do dia anterior ainda não eram frequentes, motivos pelo qual não estávamos habituados. Somos fracos, admito! O cansaço falou mais falto ^^’
Ia a fazer o que já era hábito e o que mais odiava fazer logo de manhã: descer aquela intermidável escadaria.
O meu destino era a cozinha, já que o relógio marcava uma hora demasiada avançada.
Já eram 14.25h e eu ainda não tinha comido nada.
Entrei na cozinha, onde a Lúcia a arrumava, depois de ter preparado um grande banquete, aqueles que nos preparava todos os dias, em todas as refeições.
EU: Lúcia, bom dia! - Depositei-lhe um pequeno beijo nas suas duas bochechas gordinhas, que davam vontade de apertar.
LÚCIA: Olá menina. Dormiu bem?
EU: Dormi sim, obrigada. - Sorri.
LÚCIA: O almoço está no forno, é só aquecer durante um tempinho. Os seus amigos e o menino Tom?
EU: Ainda estão a dormir, são piores que eu. - Sorri ainda ensonada, o que me fez esfregar os olhos de seguida.
Acabei por ficar sozinha na cozinha, enquanto aquecia o almoço, já que a Lúcia tinha que ir tratar da casa.
Como estávamos a acordar todos tão tarde, ela acabou por atrasar as suas tarefas e, provavelmente, perder a sua tarde.
Dois minutos depois e já tinha a comida à minha frente, pronta para ser comida (sim, a fome já era imensa).
Enquanto saboreava o meu almoço, ainda sozinha e já a acabar, a Lúcia apareceu-me na cozinha de alvoroço, carregada com montes de roupas, tornando a sua deslocação um pouco atrapalhada.
EU: Enganaste-te na divisão, não Lúcia? - Comecei a gargalhar devido ao que conseguia ver diante dos meus olhos.
LÚCIA: Não menina, eu já vou para a sala das máquinas, só lhe queria pedir uma coisinha. - Dizia enquanto pousava uma montanha de calças num dos bancos que se encontrava ao meu lado.
EU: Pede à vontade. - Já tinha acabado a refeição, o que me fez dirigir até ao lava-loiças para pousar o prato.
LÚCIA: Espere um bocadinho ... - Começou a remexer nas calças que se encontravam ali. - ah! Estão aqui. - Puxou subitamente um par de calças, deviam estar relacionadas com aquilo que ela me queria pedir. Ou não.
EU: Essas calças são do Tom! - Afirmei sem hesitações, depois de conseguir observar aquela peça de roupa que me era muito familiar.
LÚCIA: Pois são, menina. Estas calças têm um papel e eu não consigo tirar. Está lá muito para o fundo. - Tentava ela, pela milésima vez tirar o papel, ao que parecia não estar a ter muito sucesso.
EU: Deixa lá tentar. - Tirei-lhe as calças da mão e foi a minha vez de tirar o papel.
Estava difícil, mas lá consegui alcançá-lo. Com muito esforço, é certo.
LÚCIA: Ah! Boa, menina. É que se fosse para a máquina, se o papel fosse importante, o menino Tom podia ficar chateado comigo e não quero isso.
EU: É claro que ele não ficava, ele sabe perfeitamente que não fazias isso de propósito. Era só isso que querias? - Tentei descansá-la. Ela dava grande importância ao afecto que o Tom tinha por ela, e sim, ele tinha mesmo.
LÚCIA: Sim, querida. Obrigada. - Saíu da cozinha, já mais satisfeita e com o mesmo monte de roupa com que entrou.
Beijinhooooos <3.
Olá, leitoras (:
Bem, hoje tive um dia bastante produtivo! Comecei a pegar nos livros :p. Yô, sou estranha, mas deixem lá. Gosto de fazer exercícios --,. E a Sirka assustouuuuuu-me com o 11º ano. Okay, eu posso-me considerar boa aluna, estou com uma boa média, mas tenho mesmo à mesma! .____. Seja o que deus quiser :x.
Ah, e eu gosto imenso da minha melhor amiga e de um rapazito super especial :$!
Capítulo 41
O carro parou e quando ia a abrir a porta, notei que esta já tinha sido aberta pelo Tom, que esperava que eu saísse.
Sorri e dei-lhe a mão, já que ele me estava a estendê-la para me ajudar a sair do carro.
Entrámos dentro da escola e digo-vos, ela não parecia a mesma.
Estava toda decorada, cheia de velas e de cor, o que não era costume, já que era muito branca, até demais.
Todas as pessoas da festa estavam super bem vestidas, vestidas a rigor.
Aquele cenário parecia um dos Bailes que se faziam antigamente, no tempo dos Reis, o que mudava era um bocado a forma de vestir e a decoração da sala, porque de resto, estava tudo com o seu par e pareciam bastante contentes por isso.
Fui até à pista de dança, (onde já estavam uns quantos pares a dançar), com o meu par.
Até àquele destino já tinha cumprimentado várias pessoas e já tinha ouvido bastantes elogios, o que me faziam sentir que tinha escolhido o vestido certo, apesar de não o ter escolhido para essas pessoas, mas sim para o Tom, o meu Tom.
Eu não sabia dançar muito bem, o Tom estava na mesma situação, por isso inventar era a melhor solução.
Ele meteu as suas mãos na minha cintura e eu levei as minhas mãos até ao seu pescoço, encostando a minha cara sobre o ombro dele e deixei os meus pés mexerem-se ao ritmo da música, que era calma por sinal.
Ele fez o mesmo e o resultado nem foi muito mau, apesar de às vezes pisá-lo e ele a mim. Ao menos era mútuo xD.
TOM: Estás linda. - Sussurou-me ao ouvido, ainda estávamos juntinhos, ainda não nos tinhamos separado.
EU: Pára de me dizer essas coisas.
TOM: Mas é verdade. Tenho o par mais bonito deste Baile.
EU: Tom, não exageres.
TOM: Não estou a exagerar. Tu és e estás linda.
Já nem lhe consegui responder mais ... A noite foi tão boa, dançámos tanto, brincámos tanto e bebemos algumas coisas mas não nos embebedamos.
Já eram umas 2 e tal da manhã e a festa continuava e de certeza que iria ser até de manhã.
Eu já estava um bocado cansada, queria ir para casa e o Tom queria vir comigo, talvez para não me deixar sozinha, por isso avisámos os outros, que preferiram ficar ali até às tantas (que equivalia até de manhã).
Chegámos a casa e fui até ao meu quarto, tirar o totó que já me estava a fazer doer a cabeça e tirar a maquilhagem com o desmaquilhante.
Até fui rápida, já que a maquilhagem que tinha não era muita. Estava na parte de tirar o gloss quando o Tom me apareceu à porta do quarto, entrando sem demoras.
Foi-se aproximando de mim, tão depressa que nem me tinha apercebido do quão rápido ele foi.
Começou a beijar-me com intensidade e eu correspondi. Os beijos eram cada vez mais prolongados e sentidos, sim, eram sentidos.
Algo parecia estar a acontecer mas eu não percebi bem o quê. Os beijos passaram para as carícias que nunca tinham sido feitas com tanto sentimento, nem os beijos tinham sido tão intensos, tão bons, tão apaixonados.
Parece que depois daquilo tudo, percebi o que é que se estava a acontecer.
Já não conseguíamos prolongar mais a vontade de sermos um do outro, já não havia tempo para esperar, até porque parecia ser o dia e a hora exacta para tal acontecer.
Ele sabia perfeitamente que esta seria a minha primeira vez por isso todos os passos tinham sido feitos com todo o cuidado, até porque nada daquilo tinha sido planeado, foi instantanêo, mas não foi um erro. Ambos queríamos, mas não sabíamos que seria logo naquele dia.
Não o impedi, até porque ali estava a maior prova que podia arranjar para lhe mostrar que só o amava a ele, que só queria ser dele e que ele não tinha motivos para ter ciúmes de outros. Ali estava a forma de lhe mostrar o que sentia por ele, de lhe mostrar que por ele fazia aquilo que nunca pensei fazer tão cedo, até porque nunca pensei apaixonar-me tão cedo por alguém, muito menos pelo Tom.
Já não haviam roupas instaladas nos nossos corpos, já estava tudo no chão, em monte, até o meu caríssimo vestido.
Beijos e mais beijos, mais demonstrações de amor e de seguida o momento de ambos sermos um do outro.
Não poderei dizer que seja algo fantástico, até porque me fez um bocado de confusão, mas que passou rapidamente, com o sorriso dele e com os seus beijos que me faziam esquecer tudo, só ele me interessava naquele momento.
Eu era dele, sim! Era dele.
Sei que nada é para sempre, que não ficarei para sempre com o Tom, mas depois de tudo aquilo, ele será para sempre especial, até porque foi o primeiro. O primeiro rapaz a que me entreguei, entreguei-me de forma consciente até porque o amo mais do que esperava, mais do que imaginaria que um dia acontecesse.
Eu era dele, ele era meu.
O cansaço era vísivel em ambos e as respirações ofegantes, depois de todos aqueles movimentos, de tudo o que se passou naquele quarto. No meu quarto.
Deitei-me sobre o peito dele e depois de mais um beijo acabei por adormecer, já sem forças, sobre ele mesmo.
No dia seguinte, quando acordei já não estava no peito dele, já estava na minha almofada, bastante direitinha por sinal, o que não era costume.
Coitado do Tom, devia ter levado tantos pontapés durante a noite. É, tenho muito mau dormir $:.
Deixei-me ficar deitada a pensar na noite que se tinha passado, foi tudo tão ... tão inexplicável, é isso! Não sei como explicar.
Já estava com um sorriso nos lábios mas rapidamente me lembrei que já estava de férias, finalmente de férias, o que me fez sorrir ainda mais, nem sei como consegui.
Os meus pais chegariam dentro de dois, três dias, porque o meu pai atrasou-se em Madrid para variar e prolongou a estadia. A Sarita já estava farta de lá estar, pudera, aquilo era uma seca autêntica.
O Tom & Companhia estariam quase a ir para casa deles, o que já me fazia ficar com saudades. Foi um mês em cheio, ficámos muito mais próximos do que éramos, já para não falar da volta que a minha relação com o Tom deu. Quem diria ... Eu e o Tom namorados. Amazing x).
Quando olhei para o lado o Tom estava acordado a olhar para mim. Que salto que dei. Foi bastante esquisito, pareciam aqueles mortos-vivos xD.
( Uma coisa que me esqueci de referir, tenham calma, nós usámos preservativo. O Tom, para meu desagrado ou não, andava sempre prevenido para situações como a que tinha acontecido na noite anterior).
TOM: Tem calma. - Riu-se do salto que dei e talvez da minha cara super assustada.
EU: Ai, Tom, és sempre o mesmo. - Sorri também, já mais calma.
TOM: Vou tomar banho. - Beijou-me.
EU: Vai, depois vou eu.
Ambos nos despachámos depressa e preparamo-nos para descer para tomar o pequeno-almoço. Eu estava cheia de fome, parecia que não comia há dias.
O Tom lá conseguiu esperar por mim. Vesti-me rápido e descemos os dois entre risadas e empurrões o que já era mais que habitual.
A Daniela e o Bill já estavam à mesa e a Lúcia já estava a pôr uns bolos e uns doces pela mesa. Bem,aquilo para variar estava cheio.
Sentei-me ao lado da Danníe e o Tom ao lado do irmão.
BEIJOOOOS
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